O vazio oprime, agride. Vidas vazias são violentadas pela falta de um sentido que faça valer a vida.
Pais que, ingenuamente, tentam preencher os filhos com cuidados excessivos ou apenas com bens materiais não percebem o vazio de liberdade e amor que lhes causam – inquietam-se em ‘garantir’ segurança e felicidade por vias equivocadas. Por outro lado, adolescentes e jovens que, para serem aceitos, na opressiva necessidade de se encaixarem em algum padrão, cercam-se de perigo, precipitando-se no abismo das drogas, da prostituição, da criminalidade. Os próprios adultos, coitados, na correria da lida, acabam esquecendo a ‘boa parte’ (Lc 10,42). É tudo ilusão e adrenalina. É um caos instaurado pela completa ausência de sentido.
Cada um de nós, de alguma forma, busca a realização de seus desejos mais profundos.
Estamos sempre nos aventurando à procura de um sentido que faça valer a vida.
Prazer
Havia uma mulher que procurava prazer entregando o corpo a qualquer um. Mas ninguém conseguia preencher o seu coração, que necessitava amor e não sexo. O sexo, a pornografia, a masturbação podem até nos dar momentos de gozo, adrenalina e distração, mas não nos tornam plenos. Satisfazer-se egoística e corporalmente, esperando encontrar felicidade verdadeira, é pura ignorância; é ilusão de quem acredita que o mais importante da vida é a carne – e só! Aquela mulher, vazia e infeliz, foi olhada pela Vida, e encontrou-a – num gesto de quem não culpou, mas amou profundamente.
A samaritana também buscava amor. Na sua íntima dor, embaraçada na vida de tantos homens, ela queria saciar a sede de sua alma. É exatamente assim: a gente sempre procura transcender de alguma forma, encontrar paz, mesmo em circunstâncias que acabam nos aprisionando. São os enganos do coração; as armadilhas da vida! Mas naquele dia, ali, perto do poço, encontrou a ‘fonte da água da vida’, aquela que eterniza.
Ter
O jovem rico saiu triste do encontro com Jesus porque não estava disposto a abrir mão de sua riqueza. Isso serve de alerta aos abastados ambiciosos. Pois aquele que muito quer fica sem nada; acaba consumido pelos próprios bens e por sua insaciável ganância. “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). Não se esqueça do homem rico e insensato, de muitas terras e centenas de escravos, que resolveu ajuntar e encofrar toda a sua riqueza, até que, de súbito, lhe foi exigida a alma. Os que se põem como loucos a conquistar o mundo, acabam vítimas da própria loucura. Por isso: “Buscai antes o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Lc 12, 31).
Sem falar dos consumistas incontroláveis, que gastam tempo e dinheiro comprando inutilmente a felicidade. Roupas, comidas, viagens, acessórios, beleza… Atitude frustrante! São embrulhados pelo capitalismo numa embalagem de aparente realização. São vidas interiormente ocas, frouxas, superficiais e incapazes de sustentar-se. Vive-se de inutilidades!
Poder
Tão presos à letra, fariseus e doutores da lei esqueceram a vida; tão cheios de si não viam o outro – que passava despercebido diante de sua moral tão imoral, rígida e desumana. A lei lhes roubara do coração o sentimento, da razão o bom senso e dos olhos a visão. Hipócritas! A sabedoria que aqui aprendemos, e que nos serve indiscutivelmente para tanta coisa, se não nos ensina a fazer o bem, a amar e a nos relacionarmos sadiamente uns com os outros, não está cumprindo o seu papel. A autoridade de Jesus se revela no serviço; a Sua loucura promulga um saber que confunde os sábios deste mundo, justamente porque faz perceber que o segredo da vida consiste em dar-se (por amor), posto que “a vida se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros” (EVANGELII GAUDIUM).
Vale lembrar que o acúmulo de bens, títulos ou o alto grau de intelectualidade e profissionalismo nunca impediram a existência da solidão. E ao solitário,
é ela mesma (a solidão), sua companheira, que acaba por destruí-lo.
De certo, o que aqui exponho é insuficiente para dar conta da amplitude e complexidade do assunto, mas não podemos negar os vazios – eles existem! Tudo isso (e muito mais) geram vazios, vazios existenciais que sufocam. Quantas vidas tão cheias e, ao mesmo tempo, tão vazias. Parece contraditório, mas não é! Esses vazios estão gerando tristezas que têm angustiado e matado muita gente. Depressão, suicídio, violência, guerra, corrupção; tudo parece estar relacionado. A crise é geral, global e histórica; e abrange todas as classes sociais e idades. Um mal duma força incontrolável que exaure e corrói os corações cavos de Deus.
Impressiona a crueza de quem mata sem dó, até pela indiferença. Impressiona o que tantos são capazes de fazer por um punhado de propina, de fama, de status. Impressiona as rasas e cobiçosas motivações pra tanta guerra. Angustia as razões que têm levado tantos adolescentes e jovens a interromper tão precocemente o ritmo da própria vida. Isso é chocante! Psicólogos e psiquiatras falam em transtornos gerados e acionados por experiências dolorosas como o bullying, as perdas, traições, decepções e traumas suscitados no âmbito familiar ou nas relações interpessoais. Sem falar de armadilhas diabólicas como, por exemplo, o tal jogo da Baleia Azul, que apelam um atentado à vida de quem já está fragilizado pelo esvaziamento. Isso me faz pensar (e lamentar) sobre a opressão de tantos corações, vazios de um firme sentido que lhes assegure a vida.
Após a morte de Jesus, o coração dos discípulos foi esvaziado de toda a esperança, semeada por quem, naquele momento, estava ali, crucificado, como um malfeitor. Os dias maus seguiam oprimindo o coração de quem apostou a vida num ideal pelo qual acreditavam valer a pena. O terceiro dia trouxe consigo o brilho de uma esperança nova. O sepulcro vazio comprovou a promessa e reascendeu uma nova chama, e trouxe de novo o sentido e a alegria. Jesus é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). Ele é o sentido, a resposta que buscamos às nossas mais profundas inquietações. A Sua presença nos preenche verdadeiramente. Aleluia!
Por Dênes de Souza
(Jornalista e Missionário na Comunidade Crux Sacra)