No dia 20 de janeiro, o Pe. Genilson Sousa (Diocese de Nazaré) chegou a Brasília-DF, onde ficará durante os próximos quatro anos (2021-2024). Ele foi enviado pelo bispo diocesano, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, às Pontifícias Obras Missionárias (POM) para colaborar na secretaria da Pontifícia Obra da Propagação da Fé (POPF). Nos próximos meses, fará um trabalho conjunto com o Pe. Badacer Neto.
O sacerdote, natural de Casinhas, agreste pernambucano, estava como administrador paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Desterro, em Itambé-PE, e já atuava, na Diocese de Nazaré, como assistente espiritual diocesano da Infância e Adolescência Missionária (IAM).
Confira entrevista realizada pelas POM, na qual Pe. Genilson fala de sua história pessoal e das motivações para assumir a secretaria nacional da POPF:
POM: O que você poderia nos falar sobre sua história pessoal em família e na comunidade?
Pe. Genilson: Falar da minha vida pessoal e de sacerdote; posso dizer que é uma vida interligada, de onde vim, da minha família, do meu chão. Bem, sou o Pe. Genilson Sousa da Silva, vim de uma comunidade rural chamada Sítio Catolé, da cidade de Casinhas, Agreste de Pernambuco. Filho de uma família de agricultores, Dona Maria Olivia Sousa da Silva e Sr. Gerson Francisco da Silva. Meus irmãos: Gilson Francisco, Gildo Francisco e Genivaldo Sousa.
Cresci num lar católico, na devoção a São José, Padroeiro de Surubim e também dos agricultores. Todos os anos, tínhamos o rito de participar da festa do glorioso São José, junto com a família, nos anos que as condições ajudassem, claro; porém, quando não, meu pai ia com minha mãe.
Fiz a primeira comunhão em 1996, na capela de Santa Luzia, na comunidade onde morava, preparada pela catequista, Dona Maria de Fatima. Em 2002-2003, fiz a experiência dos Encontros da Catequese de Crisma. Andava cinquenta minutos todos domingos, ao meio dia, para escutar e aprender os ensinamentos da catequista, Dona Flora. Enfrentei um sol muito forte por dois anos. Às vezes queria desistir, mas algo me chamava. Muitas vezes ia sem almoçar para não perder os encontros. Quando não ia, ficava inquieto comigo mesmo. Certo dia, a catequista me pediu para ler a bíblia na hora do encontro, gostei daquele momento. Cada dia me envolvia a ponto de não perder mais os encontros.
Depois de Crismado, me envolvi no grupo de jovens chamado Filhos de Maria, que tinha como símbolo Nossa Senhora de Fátima, estilo da Pastoral da Juventude (PJ). Meus irmãos e vizinhos, nós nos envolvemos nesse grupo, motivados pelo coordenador da comunidade, chamado Nivaldo Duda. Nos reuníamos todos os domingos à tarde. Partilhávamos a palavra, cantávamos, planejávamos os encontros para outras comunidades.
POM: Como foi a vivência de seu discernimento vocacional?
Pe. Genilson: Ainda no ano de 2003, fui convidado pela coordenadora pedagógica e direção do colégio São Luiz, em Casinhas, a Senhora Veronica Geriz, para participar de um encontro na Mariapolis, dos Focolarinos, em Recife-PE. Passei quatro dias nesse encontro. Uma experiência diferente, ecumênica, inter-religiosa, espiritual, de testemunho e unidade. A história de Chiara Lubich acolhia como uma fonte de inspiração vocacional e de doação. Guardava aquela experiência única no coração. Voltei encantado, muito feliz. Os amigos perguntavam o que tinha acontecido comigo. Não sabia responder. Sem palavras. O sorriso, a alegria de viver era o que expressava em mim.
Em 2005, em um retiro de carnaval, organizado pela Renovação Carismática Católica, ouvindo as pregações, cada vez mais sentia no coração o chamado para aprofundar a vocação. Eu estava, naquele período, auxiliando na catequese de crisma com a catequista. Todos os meses tínhamos formação de catequese na cidade de Surubim, no Colégio Nossa senhora do Amparo. O pároco sempre dava os nortes reflexivos para a catequese. Era bom ouvir, escutar e participar. Certo dia, peguei uma carona com o coordenador da catequese, o professor Luiz Gonsalves, já de idade, hoje padre Luiz. Ele parecia angustiado pela falta de padre: “são poucos padres, e os poucos, ocupados demais”. Fiquei matutando aquelas palavras.
Havia, na paróquia de Surubim, o padre Aluísio da Silva Ramos. Eu escutava as suas pregações pelo rádio, ou nos encontros de catequese. Naqueles dias, no sítio, ouvindo sua pregação, deixei de lado a serra, instrumento que usava para cortar capim, e fui ouvi-lo. Falava de saída, não ser o que o outro pensa, mas ser uma pessoa de decisão, que sabe o que faz, consciente da sua missão. Foram profundamente essenciais na minha vida pessoal suas reflexões.
A figura do padre era, para mim e a para minha família, um modelo, mas muito distante. Eu precisava quebrar aquela distância. Dias depois, compartilhei com um catequista, no encontro, meu desejo de falar com o padre. O rapaz disse: “olha o padre aí, fala com ele”. No intervalo daquele encontro, falei: “Olá, sr. padre, posso falar com o senhor? Queria falar sobre vocação”, disse eu. Respondeu o padre: “Meu irmão, hoje não dá.” O tom do padre mudou. Mas ele disse: “hoje não posso, mas na próxima semana lhe atenderei na secretaria paroquial, no horário de atendimento.” Naquela semana, pela primeira vez, faltei a aula para ir à missa. Nunca tinha feito isso. Não sabia qual padre iria, apenas queria estar na missa naquele dia. Antes da missa, ele me chamou e conversou comigo. Mas uma vez disse que no outro dia poderia ouvir com mais tempo.
No dia agendado, ao começar a conversa, fui logo expressando: “Olhe, não quero ser padre, mas quero discernir minha vocação”. Ele, muito sábio, pediu duas tarefas como critério, depois de várias conversas: ficar um final de semana ajudando os padres nas missas e, em outro final de semana, participar dos encontros vocacionais. Era cansativo para mim, pois, além do gado, as tarefas do sítio, as aulas, eu estagiava no colégio e lecionava uma turma de jovens e adultos toda noite. Porém, não foi motivo para desistir. Além da escola, todos os sábados eu era vendedor de frutas e verduras na feira livre da cidade. Eu gostava de ajudar muito meu pai. Porém, meu pai jamais pensava que ia seguir a vocação, apesar de ter muita vontade de ver um filho padre. Assim, fui tomando o caminho da vocação.
POM: Após esse momento de discernir sobre a vocação, como foi o período de formação ao sacerdócio?
Pe. Genilson: Em 2006, entrei no Seminário Menor Nossa Senhora de Lourdes, para a experiência dos estudos do propedêutico em preparação para o seminário Maior. Em 2007, ingressei no Seminário Maior Rainha dos Apóstolos, da Diocese de Nazaré, em Olinda. Cursei filosofia no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Olinda e Recife.
Em 2010, com a chegada de Fernando Saburido, em Recife, e apoio do Bispo de Nazaré, Dom Severino Batista, fomos estudar na Universidade Católica de Pernambuco. Ainda em formação, tive a oportunidade de participar das missões dos seminaristas, idealizado por Dom Esmeraldo, em Santarém, por 40 dias, na Cidade de Belterra (PA). Participei dos encontros dos seminaristas no Nordeste, em Campina Grande, da formação Missionaria para seminaristas, no Centro Cultural Missionário (CCM).
POM: O que você destaca do período de ordenação e trajetória na missão presbiteral?
Pe. Genilson: Em 2014, aconteceu o estágio pastoral em preparação ao diaconato, na cidade de Goiana. No dia 14 de novembro, fui ordenado diácono na cidade de Nazaré, sendo enviado para o serviço diaconal na cidade de Orobó. Fui ordenado presbítero em 09 de abril de 2015, ano em que a igreja do Brasil trabalhava o tema do serviço: “Eu vim para servir” (Mc 10,45); foi a inspiração também da ordenação. Nesse mesmo ano, recebi a missão de assessorar a Infância e Adolescência Missionária (IAM) na diocese. Em 2016, fui enviado para a paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Goiana, coadjutor do Pároco, Padre Limacedo Antônio, hoje bispo auxiliar de Olinda e Recife.
No dia 05 de outubro de 2017, assumi a paróquia Nossa Senhora do Desterro, Itambé (PE). Um contexto novo, diferente e desafiador para mim. Mas com o apoio do clero, do bispo diocesano, Dom Francisco de Assis, e de toda a comunidade, assumi aquela missão com muito amor e disponibilidade naquele mês missionário. Por três anos, cuidamos, sendo presença de pastor, na proximidade ao povo, na atenção às comunidades mais afastadas, aos grupos, pastorais e movimentos, à juventude, catequese, aberto ao dinamismo da paróquia, na paciência e consciência de ser mesmo um jovem, mas buscando, com sabedoria, conduzir o povo que Deus tinha me confiado.
POM: Como você recebeu este novo desafio em sua vida, de estar na secretaria da POPF?
Pe. Genilson: Em contexto de pandemia, tempo de responder com mais ousadia o chamado, vi como um renovar da vocação. Recebi o convite do bispo diocesano e da direção das Pontifícias Obras Missionárias a tarefa de colaborar na Obra da Propagação da Fé. Foi uma surpresa, uma novidade e uma responsabilidade tamanha. Em conversa com o bispo, olhamos para o testemunho, como cristão, como igreja diocesana, como padre, respondendo às intuições do Papa Francisco para uma Igreja aberta, ousada e em saída. Acolhi a nova missão como resposta ao chamado de Deus. Posso dizer que não foi fácil. Foram dias de silêncio, oração e discernimento.
A secretaria da obra tem uma dimensão tamanha em acompanhar, motivar, colaborar com vários grupos missionários, famílias missionarias, a juventude missionária e o projeto dos enfermos e idosos missionários, por esse imenso Brasil. Vamos ter o contato com os regionais, as dioceses que têm a obra e também a possibilidade de escutar e apresentar às dioceses onde ainda não tem.
POM: Nos próximos seis meses, fará um trabalho conjunto com Pe. Badacer Neto, na secretaria. Quais as perspectivas deste trabalho?
Pe. Genilson: Primeiramente, falo daquilo que já estou vivendo nesses dias de chegada. Uma acolhida fraterna do diretor das POM, Pe Mauricio Jardim, da alegria contagiante da Irmã Vania Sousa, da IAM, do padre Antonio Niemiec, da União Missionária, e, claro, do meu irmão, nordestino, baiano, o padre Badacer Neto; sem esquecer os funcionários das POM. Vejo como um belo processo de caminhar juntos na missão.
Essa parceria de seis meses com o padre Badacer será de suma importância; podendo conhecer as atividades da POPF na sua atuação em nosso Brasil, em nossos regionais e dioceses. Tem como finalidade, ainda, a continuidade, comunhão e diálogo junto à Animação Missionária da Igreja do Brasil. Também tem como finalidade tomar consciência na perspectiva da sinodalidade, na escuta e partilha das experiências dos leigos, jovens, famílias, grupos, bispos, colaborando com a consciência missionaria, não esquecendo que a missão é de Deus.
Que este ano, refletindo o tema da campanha missionaria no mês de outubro, “Jesus Cristo é missão”, possamos aprofundar e testemunhar aquilo que vimos e ouvimos d´Aquele que nos chamou, sendo sinal de comunhão e missão, escuta e compaixão em contexto de pandemia. Hoje, como sempre, Ele nos chama a todos com mais ousadia a testemunhar seu amor infinito, cuidando de todos e da casa comum. Caminhar juntos na reciprocidade é a nossa missão.
* Entrevista e imagens das Pontifícias Obras Missionárias