O bispo da Diocese de Cajazeiras-PB, Dom Francisco Sales (OCarm), realizou a conferência de abertura da 19ª Assembleia Diocesana de Pastoral. A palestra aconteceu na manhã desta sexta-feira (08), no auditório do Centro Pastoral, em Carpina-PE, e abordou algumas chaves de interpretação das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023).
Em sua primeira colocação, o assessor esclareceu que as novas Diretrizes foram pensadas em chave de continuidade, no tocante a um processo que já foi iniciando há décadas e que está pautado em uma forma nova de relação entre a igreja e a sociedade, conforme as exigências da ação evangelizadora, como consta no DGAE. Dom Sales citou os termos mais recorrentes que demarcam essa nova relação: Nova evangelização, Duc in altum, Conversão pastoral, Igreja em saída, etc.
Ao discorrer sobre as transformações que estão em curso, e que tocam diretamente a esfera da experiência e transmissão da fé, o bispo de Cajazeiras destacou o fenômeno cultural da urbanização como algo que tem ‘invadido’, concretamente, todas as instâncias da existência humana. Ele afirma que a igreja precisa dialogar com essa realidade com o objetivo mesmo de atingir e modificar, pela força do Evangelho, “os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação”, como constam nas Diretrizes.
Dom Francisco Sales apontou os dois grandes horizontes que se destacam nas Diretrizes: Comunidade e Missão. A ideia é justamente despertar e cultivar um relacionamento fraterno (dimensão ad intra) que mantenha uma conexão íntima e inseparável com a dimensão missionária (dimensão ad extra). A finalidade é uma igreja próxima das pessoas, presente nos diversos ambientes e que seja fonte de conversão.
As novas Diretrizes, explica Dom Sales, usa a imagem da Casa, com todo o referencial simbólico que ela abarca, para pensar caminhos de evangelização para a Igreja. A casa como lugar de encontro, familiaridade e experiência profunda com a pessoa de Jesus Cristo, sustentada por quatro pilares: Palavra (iniciação à vida cristã e animação bíblica), Pão (liturgia e espiritualidade), Caridade (serviço à vida plena) e Ação Missionária (estado permanente de missão).
Esses pilares, relembrou, não consistem em urgências do ponto de vista cronológico, mas referenciais constantes para a vida e missão da Igreja no Brasil, que precisa desenvolver atitudes de escuta e se deixar interpelar pelo Espírito para anunciar e testemunhar Jesus Cristo, dentro das particularidades próprias da cultura, com novos caminhos, métodos, sinais e linguagem. É a necessária e urgente conversão pastoral de que fala o Documento.
Entre luzes e sombras: olhar de discípulos missionários
Num segundo momento, o assessor da 19ª Assembleia de Pastoral da Diocese de Nazaré citou alguns dos desafios que se impõem à missão evangelizadora da Igreja num Brasil cada vez mais urbano: individualismo (em detrimento da fraternidade e comunhão); enfraquecimento das instituições e tradições; pluralidade cultural, social e religiosa (o cristianismo não é mais o eixo aglutinador da sociedade); consumo e consumismo; novas formas de pobreza; violência; crise da verdade; sistema econômico e social injusto em sua raiz, etc.
Diante dessas ‘sombras’, declarou, em um mundo que se transforma, é necessário lançar luzes sobre a realidade a partir de uma perspectiva evangélica que promova uma conversão pastoral; e essa conversão pastoral precisa ser geradora de pequenas comunidades eclesiais missionárias. “Não estamos sozinhos! Temos uns aos outros e o Senhor está no meio de nós”, asseverou.
A Igreja nas casas
Dom Sales reforça que, nas Diretrizes, a casa é tida como o lugar do encontro, do diálogo, da partilha, da ternura, da cura e reconciliação. A casa é um lugar de cultivo e vivência dos valores do Reino. Daí a necessidade de criar pequenas comunidades eclesiais missionárias nas ruas, condomínios, edifícios, bairros, povoados, aldeias e grupos que se unem por afinidade e que tenham o ministro ordenado como o promotor da comunhão, unidade e salutar descentralização das ações de celebração e evangelização.
Segundo o bispo da Diocese de Cajazeiras, com base no Documento, essas comunidades eclesiais missionárias devem ser ambientes propícios à escuta da Palavra, vivência da fraternidade, ânimo na oração, aprofundamento dos processos de formação continuada da fé e fortalecimento do firme compromisso apostólico na sociedade atual. Em suma, essas comunidades se configuram como uma rede em comunhão com a Igreja local e tem a missão como seu eixo fundamental.
Cursos da Assembleia
A 19ª Assembleia de Pastoral da Diocese de Nazaré acontece no Centro Diocesano de Pastoral, em Carpina-PE, nestes dias 08 e 09 de novembro. Cerca de 300 pessoas estão participando da Assembleia, que conta com a presença de padres, diáconos, seminaristas, religiosos(as), consagrados(as), coordenadores(as) diocesanos dos movimentos, pastorais e serviços, e representantes leigos(as) das diversas paróquias e áreas pastorais da Diocese.
O encontro começou com o café da manhã, seguido de um momento de oração no Auditório Monsenhor José Maria de Araújo. Em seguida, o bispo diocesano, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, acolheu os participantes e dirigiu-lhes uma mensagem. Em suas primeiras palavras, com trechos motivadores do Papa Francisco e das Novas Diretrizes, um convite a mergulharem na alegria do Evangelho:
“‘Não nos deixemos roubar a alegria da evangelização! Convido-vos a mergulhar na alegria do Evangelho e a alimentar um amor capaz de iluminar a vossa vocação e missão’. A casa foi um dos lugares privilegiados para o encontro e o diálogo de Jesus e seus seguidores. A casa comunidade é também nosso lugar privilegiado de encontro”, recordou.
Posteriormente, convidou todos a um questionamento: que tipo de Igreja queremos ser? “Diante da mudanças no mundo em que vivemos, temos que nos questionar: Que Igreja estamos sendo e que Igreja queremos ser? Uma Igreja acomodada? Uma Igreja simplesmente de conservação? Uma Igreja samaritana? Uma Igreja misericordiosa? Uma Igreja acolhedora? Uma Igreja sinodal? Uma Igreja Missionária? Uma Igreja em saída? Uma Igreja casa de ternura? Precisamos ser uma Igreja do encontro, que vai ao encontro do outro. O nosso desafio é “criar uma casa comunidade apropriada para a evangelização, e não ter uma preocupação exacerbada pela casa pessoal”, advertiu.
Segundo Dom Lucena, é preciso estar consciente dessas questões para iluminar a construção do novo Plano Diocesano de Pastoral, para o próximo quadriênio (2020-2023), que tem como tema: “Igreja, somos todos a caminho” e lema: “Prepara-te e vai” (At 8,26). O novo plano será resultado de uma espiritualidade de comunhão, um estudo reflexivo das Diretrizes e de discussões em grupo a partir de proposições fruto das assembleias preparatórias realizadas nas paróquias e regiões pastorais.
“Somos povo a caminho. Vemos a caminhada e o esforço do nosso povo em nossas comunidades. Pedimos a Deus que esta Assembleia seja instrumento que nos ajude a caminhar, semeando esperança e testemunhando uma casa pobre e servidora, sendo luz e sinal do Reino de Deus neste mundo. “Procuremos ser uma Igreja que encontra caminhos novos”, instigou o bispo diocesano.