Desde a segunda-feira, 12 de abril, os bispos do Brasil estão reunidos na 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que neste ano, pela primeira vez, aconteceu de forma online em razão da pandemia da Covid-19. O encontro é sinal e instrumento de colegialidade, do afeto episcopal e da busca de comunhão entre as Igrejas particulares do país, especialmente no âmbito da ação evangelizadora.
O tema central da 58ª AG CNBB foi “Casas da Palavra – Animação bíblica da vida e da pastoral nas comunidades eclesiais missionárias”. Outros assuntos também estiveram presentes na pauta da Assembleia, dentre eles: os anos temáticos de São José e Família Amoris Laetitia, convocados pelo Papa Francisco; a realização do terceiro Ano Vocacional da Igreja no Brasil em 2023; a criação do Regional Leste 3; as Edições CNBB; o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS); a pandemia do novo coronavírus; a Campanha da Fraternidade 2022 (CF), que terá como tema “Fraternidade e Educação” e como lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31, 26) etc.
Conversamos com o bispo diocesano de Nazaré-PE, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, a respeito do andamento e dos direcionamentos da 58ª AG CNBB para a Igreja do Brasil e os seus frutos para a Igreja Particular de Nazaré.
– O formato online, utilizado pela primeira vez, em função da pandemia do novo coronavírus, favoreceu ou dificultou o bom andamento da Assembleia?
O formato online favoreceu imensamente o bom andamento da 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, de 12 a 16 de abril de 2021, nesta pandemia da COVID-19. A assembleia geral, anual, é o órgão máximo da CNBB. Os bispos se reúnem e tratam de questões relativas aos seus serviços na Igreja, com suas preocupações e responsabilidades nas dioceses. Os bispos são responsáveis e cuidam das dioceses que lhes são confiadas, juntamente com o seu clero. Entretanto, o bispo não exerce sua missão de forma isolada, sozinho, mas em comunhão com os outros bispos; e todos juntos exercem a missão em comunhão com o Papa. O bispo está a serviço da vida e da missão da Igreja com amor, com obediência à Palavra de Deus e à profissão de fé na Igreja. Na Conferência se manifesta a comunhão, a colegialidade, a sinodalidade, a fraternidade e a ajuda mútua entre os pastores. E o formato online possibilitou a realização desta assembleia. Cada bispo na sua casa, evitando as viagens, economizando gastos e sem colocar sua saúde em risco. São mais de trezentos bispos participantes desta assembleia histórica. Claro que existe a ausência da presença física, das celebrações eucarísticas, das reuniões em grupo e das votações dos documentos oficiais da assembleia. Todavia, nem mesmo faltou uma manhã de espiritualidade, muito positiva, orientada pelo Arcebispo de Boston, Cardeal Sean Patrick O’Malley. Acredito que este modelo online permanecerá para facilitar o andamento de um novo formato de Assembleia Geral, anual, da CNBB.
– Como o senhor descreve a experiência destes dias junto ao episcopado brasileiro?
Descrevo como uma experiência surpreendente de proximidade, de comunhão, de colegialidade, unidade e fraternidade. Todo o episcopado escutando, participando, contribuindo, partilhando a vida e a missão da Igreja diante dos desafios hodiernos. A assembleia geral da CNBB costuma ter uma agenda muito densa, e esta não foi diferente: os relatórios da Presidência e das Comissões como, por exemplo, da Comissão de Liturgia; vários outros temas prioritários com uma atenção especial, por exemplo: a revisão do atual Estatuto da CNBB e a criação do Regional Leste 3, a ser formado pelas dioceses do estado do Espírito Santo; as orações nestes dias e a manhã de espiritualidade. Cartas, mensagens e outros assuntos diversos relacionados às situações e necessidades do momento atual. As reflexões sobre o tema da Palavra de Deus na Bíblia, como “pilar” da evangelização e da vida da Igreja, que deve orientar e animar toda a vida pastoral. O tema central foi “Casas da Palavra – Animação bíblica da vida e da pastoral nas comunidades eclesiais missionárias”, já presente nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023). O “pilar da Palavra de Deus” é essencial à vida e missão da Igreja, “casa de Deus” que existe para anunciar e testemunhar o Evangelho. A emoção de receber a videomensagem do Papa Francisco, com sua palavra orientadora de que a missão da Igreja no Brasil é ser instrumento de reconciliação e de unidade. Estes dias foram de um grande aprendizado para todo o episcopado brasileiro.
– Que frutos da 58ª AG CNBB podemos esperar para a caminhada pastoral e missionária da Diocese de Nazaré neste ano de 2021?
A Diocese de Nazaré colherá muitos frutos desta Assembleia Geral da CNBB. Os frutos começam no tema central do Pilar da Palavra, que motiva a vivência do nosso Plano Diocesano de Pastoral (2020-2023). Todas as iniciativas desta Igreja Particular e toda a sua organização pastoral e missionária estarão motivadas e iluminadas pela Palavra de Deus. Uma verdadeira consciência de que a Igreja é servidora da Palavra de Deus em tudo o que ela é e faz. A Igreja não vive de uma doutrina ou mensagem que ela mesma tenha criado. Ela vive da fé que vem da Palavra, alimenta-se da Palavra e procura traduzir essa mesma Palavra de Deus em vida e missão, obedecendo e se conformando a ela. Encontros de irmãos, círculos bíblicos, iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal e as escolas da fé terão um impulso renovado. Muitas formações, estudos e reuniões cada vez mais serão realizados de forma virtual. Os desafios serão enfrentados com tranquilidade e serão deixados “de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve”, como disse o nosso querido Papa Francisco em sua mensagem para os bispos desta Assembleia Geral. O novo é possível, mesmo diante das estruturas enferrujadas e engessadas.
– A partir do que foi discutido e aprovado, que novidades e desafios temos pela frente enquanto Igreja?
Temos muitas novidades e desafios enquanto Igreja a partir desta 58ª Assembleia Geral da CNBB. Um novo Regional da CNBB; celebrar o Ano Amoris Laetitia, convidando todos a se encantarem com os ensinamentos da Exortação Apostólica Amoris Laetitia; desenvolver a campanha da fraternidade 2022 sobre a educação, não se restringindo ao ensino científico e técnico, mas lançando um olhar sobre a educação de forma integral; a realização do ano vocacional em 2023 e mais: tornar-se uma Igreja decididamente sinodal, fazer a Animação Bíblica da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias, manter o compromisso com a ação solidária emergencial “É tempo de cuidar”, contribuir com reflexões para a Primeira Assembleia Eclesial da América latina e do Caribe em novembro de 2021, além da realização do Congresso Eucarístico Nacional, de 11 a 15 de novembro de 2022, como um alento em meio a tanto sofrimento e dor causados pela pandemia do novo coronavírus. Muitas outras novidades e desafios se apresentam na vida e na missão da Igreja a partir desta Assembleia. Sendo assim, tudo o que teremos pela frente enquanto Igreja deve ser vivenciado com alegria, sob as luzes do Cristo Ressuscitado e guiados pelo Espírito Santo.