O bispo diocesano de Nazaré, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, está participando do 34º Curso para os bispos do Brasil promovido pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, no Centro de Estudos do Sumaré. O curso, realizado desde 1990, teve início na segunda-feira (27 de janeiro) e segue até a sexta-feira (31 de janeiro). A temática deste ano é: “O kerigma e os desafios pastorais como fonte de esperança”.
Saudando os mais de 80 bispos inscritos nesta edição de 2025, vindos de diversas regiões do Brasil, o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal D. Orani Tempesta, recordou que o Curso para os bispos “é um espaço privilegiado para a reflexão, o discernimento e a comunhão, no qual aprofundamos nossa missão como sucessores dos apóstolos, chamados a anunciar e testemunhar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
O cardeal Tempesta chamou atenção para o tema deste ano, que surge como um convite para se voltar ao essencial da missão, que é proclamar a Boa Nova de Jesus Cristo com vigor e fidelidade. Para isso, trabalhando desde as questões relativas aos dados preliminares do último censo do IBGE acerca da presença da religião no Brasil, passando pelo aniversário de 1700 anos do Concílio de Niceia, e refletindo os desafios pastorais contemporâneos mundiais e da realidade brasileira, o Curso para os bispos quer ser, nas palavras de D. Orani, “um campo livre para reflexões pessoais que nos motivem em nossa ação pastoral”.
A abertura do evento também contou com uma palavra do núncio apostólico no Brasil, D. Giambattista Diquattro, que recordou a “sinodalidade” da Santíssima Trindade como modelo da sinodalidade a ser vivida pelo episcopado; em seguida, o coordenador geral do curso, D. Antônio Catelan, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, apresentou o programa do curso, que se desenvolve em três núcleos temáticos: o kerigma, os desafios pastorais e o tema da esperança.
Na manhã de terça-feira, os bispos iniciaram o dia com a Santa Missa, presidida pelo cardeal Victor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé. Refletindo a temática do anúncio do evangelho, o cardeal recordou que a ação missionária dispõe as pessoas, mas é o Espírito Santo que realiza o acontecimento da fé. “No kerygma”, recordou D. Victor, “o Espírito Santo não é um conteúdo, é o agente que converte o anúncio em um acontecimento salvífico”.
Nessa primeira manhã de estudos, os bispos participaram de uma conferência com o tema “O atlas religioso do Brasil: uma leitura a partir do Censo Demográfico 2022”. Felipe Feijó, coordenador de área do IBGE, apresentou números e estudos acerca da realidade religiosa no Brasil, destacando o crescimento dos “sem religião” e a necessidade da evangelização no meio urbano e entre os jovens, maior grupo afetado pela migração religiosa.
A segunda conferência ficou a cargo do Cardeal Victor Fernández, que apresentou “O kerigma que Papa Francisco nos propõe anunciar no contexto brasileiro”. Recordando o convite do Papa a um estado permanente de missão, o cardeal argentino definiu o kerigma como “a proclamação (ato de anunciar) da mensagem pascal que provoca a irrupção de um acontecimento na pessoa e na sociedade (o Reino). É um anúncio potente, que tem em si mesmo a força de provocar uma experiência, que por sua vez funda uma situação nova. Papa Francisco o sintetiza dizendo que seu conteúdo é ‘a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado’ (EG 36)”.
A proposta que o magistério de Francisco traz, ressaltou D. Victor, exige uma conversão pastoral e missionária que pressupõe uma renovação pessoal. “Não podemos colocar nossa segurança no que nós sabemos e que os outros, ignorantes, não entendem: isso é cômodo e pouco generoso. É melhor reconhecer que assim não podemos seguir adiante e precisamos abrir-nos generosamente a um novo Pentecostes missionário”.
A manhã de estudos do episcopado brasileiro terminou com um diálogo em pequenos grupos, com a motivação “como vemos a realidade do Brasil?”.
“O kerygma responde às perguntas últimas e mais profundas do coração humano”
“O kerygma responde às perguntas últimas e mais profundas do coração humano”, afirmou na tarde de terça-feira (28) o Cardeal Victor Manuel Fernández aos bispos brasileiros reunidos no Rio de Janeiro para o 34º Curso para os Bispos. Em sua segunda conferência no curso, o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé tratou do tema “O impacto do kerygma na práxis pastoral”.
“Por outro lado”, destacou também o cardeal, “este mundo que vai à toda velocidade escondeu as grandes perguntas por detrás das urgências cotidianas, em tantos enganos e em um ritmo de vida febril”. Diante dessa realidade, D. Victor Manuel propôs aos bispos algumas questões para se enfrentar a realidade brasileira: hoje, no Brasil, quais são essas grandes necessidades cotidianas a que as pessoas sentem que precisam responder? Onde elas vão buscar segurança, intensidade e plenitude?
Para se responder a essas perguntas – indicou o cardeal argentino – deve-se voltar a uma conversão pastoral, conforme propõe o Papa Francisco na encíclica Evangelii Gaudium. E esse processo deve envolver toda a comunidade cristã: “Cada cristão é chamado a colaborar no anúncio missionário fazendo um trabalho corpo a corpo”.
Ainda na tarde de terça, os bispos tiveram dois momentos de diálogo: um primeiro momento com Felipe Feijó, coordenador de área do IBGE, acerca dos dados sobre religião no Censo de 2022, e outro com o Cardeal Fernández acerca de suas duas conferências.
Nesta quarta-feira, 29, o dia estudos começou com a Santa Missa, presidida pelo Cardeal Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre. Em seguida, os bispos participaram de uma mesa redonda com a temática “Repercussões de um Censo”, conduzida pelo cardeal Spengler, por D. Joel Portella, bispo de Petrópolis, e por D. Gilson Andrade, bispo de Nova Iguaçu, ainda refletindo sobre os dados que indicam o crescimento dos “desigrejados” na sociedade brasileira.
Na sequência, o Pe. André Luiz da Silva, professor do Departamento de Teologia da PUC-Rio, apresentou a conferência “Niceia: contexto, história e significado”, recordando os 1700 anos da realização do primeiro concílio ecumênico da história da Igreja. Na tarde deste mesmo dia, os bispos seguiram para um passeio cultural na Cidade do Samba.
Informações: arqrio.org.br (Diácono Eduardo Silva – Arquidiocese do Rio de Janeiro)
Fotos: Bruno Carvalho