A 25ª Assembleia Diocesana de Pastoral (Diocese de Nazaré) aconteceu no sábado, 22 de novembro de 2025, das 7h30 às 15h, no Centro Diocesano de Pastoral (CDP), em Carpina-PE, contando com a presença de membros do clero diocesano (bispo, padres, diáconos), seminaristas, religiosos(as), consagrados(as) e leigos representantes das comunidades paroquiais e das coordenações diocesanas dos diversos movimentos, pastorais e serviços.
A programação começou com o café da manhã, seguido de um momento de oração conduzido pelos seminaristas do Seminário Rainha dos Apóstolos. Na sequência, o bispo diocesano, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, proferiu a palavra de abertura, destacando a importância deste momento.

“Que bom estarmos aqui, nesta Assembleia Diocesana de Pastoral, numa perspectiva ainda avaliativa, mas já olhando para a assembleia do próximo ano, na expectativa das diretrizes que serão aprovadas na 62ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 2026, e com o firme desejo e disposição de ‘arrumarmos a nossa casa’. Temos muito a fazer!”, declarou.
E prosseguiu: “Este é um momento para vermos com mais clareza toda a nossa caminhada, avaliando o que deveríamos ter feito e não fizemos; até mesmo aquilo que fizemos demais. Precisamos dar visão a todo esse trabalho, para sondar aquilo que, de fato, está dando frutos, o que precisa ser retomado e em que dimensões precisamos avançar. Temos que seguir em frente, mas não sozinhos, com todos”, disse.
O prelado evidenciou a necessidade de aproveitar a ocasião para pensar bem sobre a caminhada diocesana, a fim de definir as realidades prioritárias à missão evangelizadora no ano de 2026, “de modo a avançarmos, progredirmos nas ações a serem realizadas, e não girarmos em torno de questões que já estão funcionando bem ou que não são tão essenciais assim”. E convocou a todos: “vamos olhar para frente! Cada um se coloque à disposição para cooperar, com espiritualidade e disposição cristã, com esta missão que é nossa”.
CONFERÊNCIA
O palestrante da conferência da 25ª Assembleia de Pastoral da Diocese de Nazaré, que aconteceu na parte da manhã, das 9h45 às 11h30, foi o Pe. Mathias Soares, coordenador da Comissão de Cultura e Educação da Arquidiocese de Natal, que discorreu sobre os principais pontos de dois discursos: o discurso do Papa Leão XIV, na Audiência aos Membros do Colégio Cardinalício, em 10 de maio de 2025; e o discurso do Papa Francisco durante sua visita apostólica ao Brasil, por ocasião da XXVIII Jornada Mundial da Juventude, em 28 de julho de 2013, dirigido aos bispos responsáveis do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), na Reunião Geral da Coordenação.

Padre Mathias afirmou que o objetivo das reflexões propostas era gerar inquietação para que o processo de evangelização na Igreja Particular de Nazaré seja profícuo. “Devemos nos colocar numa atitude de disponibilidade para cooperar com a ação de Deus na história”, animou.
O assessor tratou, inicialmente, de alguns pontos fundamentais presentes em um trecho do discurso do Papa Leão, no qual o Pontífice destaca elementos contidos na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, do Papa Francisco, que resgata e atualiza os conteúdos do Concílio Vaticano II.
“A este respeito, gostaria que hoje renovássemos juntos a nossa plena adesão a este caminho, que a Igreja universal percorre há décadas na esteira do Concílio Vaticano II. O Papa Francisco recordou e atualizou magistralmente os seus conteúdos na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, da qual gostaria de sublinhar alguns pontos fundamentais: o regresso ao primado de Cristo no anúncio (cf. n. 11); a conversão missionária de toda a comunidade cristã (cf. n. 9); o crescimento na colegialidade e na sinodalidade (cf. n. 33); a atenção ao sensus fidei (cf. nn. 119-120), especialmente nas suas formas mais próprias e inclusivas, como a piedade popular (cf. n. 123); o cuidado amoroso com os marginalizados e os excluídos (cf. n. 53); o diálogo corajoso e confiante com o mundo contemporâneo nas suas várias componentes e realidades (cf. n.84; Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 1-2)”.
Conversão missionária e regresso ao primado de Cristo
Padre Mathias comentou que somente esses pontos seriam suficientes para introduzir muita coisa nas reflexões e ações pastorais da Diocese de Nazaré e de cada paróquia. E fez as seguintes perguntas: “Quais são os lugares onde a Igreja Particular de Nazaré deveria estar presente para anunciar o Evangelho? Em que lugares da nossa comunidade de fé poderíamos chegar e ainda não chegamos”.
Segundo o referido sacerdote, esta pergunta poderia ser feita a qualquer diocese, paróquia ou comunidade; e traz à tona a imagem das periferias geográficas e existenciais, como já sinalizava o saudoso Papa Francisco, que precisam ser tocadas pelo Evangelho, resgatando, inclusive, o primado de Cristo no anúncio.
“Sem esse exercício espiritual, não é possível encontrar um rumo para uma conversão pastoral e missionária concreta. A nossa ação evangelizadora, nos dias atuais, deve fecundar a cultura pós-moderna como o Evangelho de Jesus Cristo. A Igreja não pode estar encurvada em si mesma. Deve pensar a vida e o mundo em suas diversas realidades e necessidades, cultivando o desejo de avançar, de gerar algo novo, de fazer coisas novas”, evidenciou.
O diálogo corajoso com o mundo contemporâneo
Sobre o aspecto do diálogo corajoso com a cultura do mundo contemporâneo, o palestrante instigou: “Esse diálogo tem que gerar em nós essa inquietação: que elementos na cultura contemporânea sufocam ou constituem desafios o anúncio do Evangelho? Temos que interpretar! Se temos a preocupação de propor o Evangelho como fermento na massa, precisamos pensar sobre isso e encontrarmos meios, estratégias de ação”.
O sacerdote da Arquidiocese de Natal também chamou atenção para a necessidade do autocuidado, tendo em vista que, na realidade contemporânea, é comum consumirmos demais e termos dificuldades em cuidar de nós mesmos. “Todos consumimos muito, trabalhamos muito, mas paramos pouco para o autocuidado: rezar mais, pensar sobre a vida, ler um livro, ficar longe celular”, disse.
Colegialidade e sinodalidade
Ele também pontuou a importância da participação de todo o povo de Deus na ação evangelizadora e na vida da Igreja, destacando a atuação e contributo dos conselhos administrativos, pastorais e missionários.
“Todo o povo de Deus assume o papel de protagonista. Na Igreja, todos são importantes. A maturidade acontece na comunhão, e não da divisão. É preciso viver a comunhão nas diferenças, e não na discórdia. Por isso, temos que caminhar na sinoldalidade – comunhão, participação e missão. O rosto da Igreja, neste milênio, precisa ser sinodal”, declarou.
Piedade popular e opção preferencial pelos pobres

Padre Mathias sublinhou, ainda, o grande peso da piedade popular nas comunidades eclesiais, que deve levar sempre a Cristo. “A cultura popular deve ser o meio pelo qual nós anunciamos Cristo. É uma dimensão a ser preservada, pois tem muita força nas nossas comunidades, a fim de fortalecer e fazer a fé frutificar”, falou, citando a grande devoção mariana na América Latina, sob o patrocínio de Nossa Senhora de Guadalupe, bem como na própria Diocese de Nazaré, cuja padroeira é Nossa Senhora da Conceição.
Além disso, ressaltou a opção referencial pelos pobres como sendo cristológica. Para uma explanação acerca dessa questão, trouxe dados e análises do cientista político José Eustáquio Diniz Alves sobre a realidade brasileira, conforme o último censo, citando o drama da evangelização nas periferias das grandes cidades. “A Igreja está ausente nas periferias das grandes cidades. É preciso viabilizar a nossa presença também nesses lugares. Precisamos apostar no protagonismo dos leigos, nas comunidades eclesiais missionárias. A realidade do Brasil como um todo precisa nos dizer algo do ponto de vista pastoral”, frisou.
Tentações contra do discipulado missionário e alguns critérios eclesiológicos
Em sua última abordagem, o padre Mathias Soares trouxe alguns tópicos do discurso do Papa Francisco, no Brasil, em 2013, aos bispos do CELAM, afirmando ser possível encontrar, também ali, pistas para fortalecer a caminhada eclesiológica, conjunta da Igreja Particular de Nazaré. Em suas primeiras colocações, esclareceu que ação missionária deve perpassar todos os âmbitos da vida eclesial (dimensão continental).
“O paradigma missionário deve ser transversal a todas as atividades, deve transitar por todas as realidades, que bebem na fonte da missão. A dimensão missionária é espírito que anima a ação da Igreja na sua totalidade, e não um pilar, como se supunha. A prática missionária é paradigmática, abrangente”, asseverou.
Apontou, na sequência, com base no texto proposto, algumas tentações contra o discipulado missionário: ideologização da mensagem evangélica – que pode desembocar num reducionismo socializante, ideologização psicológica, proposta agnóstica e pelagiana; o funcionalismo e o clericalismo – que são formas distorcidas de compreender a missão e o exercício do poder na Igreja, pois não geram serviço nem comunhão.
Por fim, o conferencista pontuou os seguintes critérios eclesiológicos contidos no discurso do papa: o discipulado missionário como uma vocação (chamada e convite), que deve acontecer no “hoje”, e não deve ser vivenciado de modo estático; o risco de a Igreja se funcionalizar, deixando de ser “aquele mysterium lunae de que nos falavam os Santos Padres”; as categorias pastorais para se viver eclesialmente o discipulado missionário (a proximidade e o encontro); e a figura do bispo como aquele que guia a pastoral, como um pastor próximo, paciente e misericordioso, vigiando sobre o rebanho que lhe foi confiado, a fim de fazer crescer a esperança.
Fotos: Pascom Nazaré







