Que boa notícia! Que alegre esperança! Que feliz experiência! O mistério do homem, escondido e revelado no mistério do amor divino, que a tudo e todos supera, agora encontra vida na Vida, força em toda Potência, completude na Plenitude, alegria na fonte do verdadeiro júbilo. É vida que transborda da Páscoa!
A vitória sobre a morte reveste-se de tons de liberdade, garantia de sentido para esta mesma experiência vital, não mais como em Lázaro, saído da sepultura e preso aos sinais de morte, mas totalmente livre, porque o amor liberta e é capaz de fazer livre a quem amar e permitir-se o amor.
“Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, mas foi ressuscitado!” (Lc 24,5-6). Este alegre anúncio, precedido de um questionamento, deve fazer vibrar no coração da humanidade a certeza de que ela não caminha sozinha em meio aos sinais de morte, da cultura do descarte, do relativismo, do egoísmo, do consumismo, da autorreferencialidade, de uma religiosidade muitas vezes farisaica e também geradora de morte. A humanidade é acompanhada pelo Vivente, o Crucificado-ressuscitado (Mt 28,20). Ele é o vencedor, Ele é a vitória, Ele é a misericórdia, Ele é a esperança, Ele é a vida. O Cristo, ressuscitado, já não morre, e todos os que vivem n’Ele igualmente não devem temer o inimigo já derrotado.
O Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Christus vivit, aponta para um risco e uma necessidade ao afirmar: “Ele vive! É preciso recordá-lo com frequência, porque corremos o risco de tomar Jesus Cristo apenas como um bom exemplo do passado, como uma recordação, como Alguém que nos salvou há dois mil anos. De nada nos aproveitaria isto: deixava-nos como antes, não nos libertaria. Aquele que nos enche com a sua graça, Aquele que nos liberta, Aquele que nos transforma, Aquele que nos cura e consola é alguém que vive. É Cristo ressuscitado, cheio de vitalidade sobrenatural, revestido de luz infinita. Por isso dizia São Paulo: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé» (1 Cor 15, 17)” (nº 124).
A vitalidade do Ressuscitado invade a todos os redimidos de ontem e de hoje, numa dinâmica capaz de colocar em marcha, dentro de nós, o que somos e temos de melhor para com nós mesmos e para com os outros. Essa vitalidade nos diz que o mal não tem a última palavra, e nos confirma – a cada pessoa que insiste em não compactuar com as estruturas do pecado – que a páscoa é atual. Se por um lado, a paixão de Cristo ainda acontece na carne e na paixão do mundo, a sua ressurreição já é experiência atualizada constantemente na história que é invadida e vivida apenas no horizonte da plenitude do Deus-amor.
Quando existe uma pessoa que insiste em ter esperança, apesar do que possa desesperar, aqui acontece a páscoa. Quando, a cada derrota, insiste-se em persistir e arriscar o novo, aqui acontece a páscoa. Quando cada família insiste em viver e buscar a felicidade uns dos outros no mesmo lar, isto é páscoa. Quando se quer viver a verdade ao invés das mentiras diárias, isto é páscoa. Quando se abre um sorriso ou se sorri quando outro gargalha, sem ter vergonha dos olhares, isto é páscoa. Quando se escolhe ser justo em meio às injustiças, isto é páscoa. Quando se vive e deixa viver a outros, isto é páscoa. Temos tantas páscoas! Ou melhor, a páscoa acontece de várias maneiras, em tantas formas, diferente das situações que são contrárias a experiência verdadeira de vida.
“Se Ele vive, isso é uma garantia de que o bem pode triunfar na nossa vida e de que as nossas fadigas servirão para qualquer coisa. Então podemos deixar de nos lamentar e podemos olhar em frente, porque com Ele é possível sempre olhar em frente. Esta é a certeza que temos: Jesus é o vivente eterno; agarrados a Ele, viveremos e atravessaremos, ilesos, todas as formas de morte e violência que se escondem no caminho” (nº 127).
É vida! Na verdade, é uma vida penetrada por uma alegria-júbilo, característica dos ressuscitados, dos que se deixam rejuvenescer pela novidade pascal. Jubilo dos que sabem que nenhuma força e nada será mais forte, mesmo na morte, do que a misericórdia do Senhor.
O Crucificado-ressuscitado está vivo e vivifica. Aqueles e aquelas que são vivificados são chamados a serem portadores da experiência de vida no mundo. Não se pode esconder os talentos! De graça se recebe e de graça se deve ofertar(-se). O Senhor, que se põe em meio à sua comunidade, a comunidade do ressuscitado, abre o que estava fechado, dissipa o medo e dá a paz da vida alegre da ressurreição. Paz que acontece pela misericórdia e para gerar frutos de misericórdia e perdão (Jo 20,19-31).
E como em Deus somos chamados a ‘ser’ mais do que apenas fazer, a comunidade do Ressuscitado é vocacionada, em cada membro, a ‘ser’ o rosto da misericórdia no mundo.
Como afirma o Bispo de Roma na Gaudete et exultate: “Deus é sempre novidade, que nos impele a partir sem cessar e a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às periferias e aos confins. Leva-nos aonde se encontra a humanidade mais ferida e aonde os seres humanos, sob a aparência da superficialidade e do conformismo, continuam à procura de resposta para a questão do sentido da vida. Deus não tem medo! Não tem medo! Ultrapassa sempre os nossos esquemas e não Lhe metem medo as periferias. Ele próprio Se fez periferia (cf. Flp 2, 6-8; Jo 1, 14). Por isso, se ousarmos ir às periferias, lá O encontraremos: Ele já estará lá. Jesus antecipa-Se-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sombria. Ele já está lá” (nº135).
Sem medo. Não ter medo! A Páscoa de Jesus é prova da sede de Deus por nós. É prova da não desistência de um amor que não se cansa de nos amar. É resposta de um Deus que tem esperança em nós.
Jesus ressuscitou e nós com Ele ressuscitamos. Morte, onde está tua vitória? Tristeza, onde está tua vitória? Mentira, onde está tua vitória? Desespero, onde está tua vitória? Egoísmo, onde está tua vitória? Orgulho, onde está tua vitória? Medo, onde está tua vitória? Antes da ressurreição, esta pergunta soava assim: homem, onde está tua vitória? Mas no doce contrariar de Deus, hoje tudo soa diferente, e para sempre o será. Esta verdade deve acompanhar a cada pessoa no caminho da vida, a fim de garantir-lhe pleno sentido, fazendo de cada passo um sinal que indica a outros a verdadeira fonte da vida.
Cristo venceu! O Vivente já não morre! O Crucificado-ressuscitado triunfou e nós com ELE.
Padre José Cleiton Barbosa
(Vigário de Nossa Senhora do Desterro, Itambé – PE)