As realidades do mundo e, consequentemente, da igreja mudam constantemente. Espaços, pessoas, relações, valores, expressões dos diversos grupos sociais e também as formas de viver e testemunhar a fé. Porém, para além das constantes, inevitáveis e até necessárias mudanças, no tocante ao testemunho evangélico, este deve permanecer sempre reapresentando um conteúdo antigo, mas sempre novo e capaz de fazer novas todas as coisas, sem descuidar da atenção e abertura à criatividade de Deus.
Diante dos diversos cenários apresentados hoje, questionadores e portadores de uma força que apela a respostas da comunidade eclesial, encontramos o leigo enquanto membro de uma família na qual todos fizeram uma opção preferencial pela pessoa de Jesus a partir de um encontro com Ele mesmo. Assim “queremos recordar e insistir que o primeiro campo e âmbito da missão do cristão leigo é o mundo. A realidade temporal é o campo próprio da ação evangelizadora e transformadora que compete aos leigos” (CNBB, Doc 105, n. 63).
Em experiências religiosas tão frequentes nos tempos atuais, muitas vezes tendem a menosprezar a indispensável presença da igreja no mundo, em todos os espaços – vale considerar que o principal espaço é o coração de cada pessoa humana –, alegando que “isto” ou “aquilo” ou “aquela forma de atuar e fazer-se presente” não compete à Igreja que, por sua vez, deveria dedicar-se tão somente às coisas espirituais, a vivência laical da vocação batismal de ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-14). Mas tais barreiras não devem existir para a vivência da construção do Reino. Recorda-nos Paulo VI que para os leigos “a sua primeira e imediata tarefa não é a instituição e o desenvolvimento da comunidade eclesial (…), mas sim por em prática todas as possibilidades cristãs e evangélicas escondidas, mas já presentes e operantes no mundo” (EN, n.70).
Transfigurar as realidades mais diversas que se podem encontrar, esta é a missão de tantas mulheres e homens que compreenderam que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo. Não se encontra nada verdadeiramente humano que não lhes ressoe no coração” (GS, n.1). Inserido dentro do corpo de Cristo, que é a Igreja, o fiel leigo assume sua identidade de povo de Deus pelo batismo a fim de viver a vida de Cristo em diálogo constante com o mundo e a própria comunidade eclesial que confirma sua vocação.
Desta forma, vale ressaltar que essa vivência da missão no mundo acontece por meio da comunidade, corpo que se chama Igreja. “Ser sujeito eclesial significa ser maduro na fé, testemunhar amor a Igreja, servir os irmãos e irmãs, permanecer no seguimento de Jesus, na escuta obediente a inspiração do Espírito Santo e ter coragem, criatividade e ousadia para dar testemunho de Cristo” (CNBB, Doc 105, n. 119). O mesmo Espírito que faz nascer cada fiel leigo para a comunidade de fé é o mesmo que estimula, conduz, justifica e confirma a missão que acontece a partir da Igreja, para que o mundo tenha vida e a tenha em plenitude.
Cada fiel que assume seu lugar na missão que é de Deus, com ousadia e consciência de seu protagonismo na obra da evangelização, compreende que “mais que no passado, temos hoje as condições sociais, políticas e culturais e as bases eclesiológicas para que o cristão leigo exerça sua missão como autêntico sujeito eclesial, apto a atuar na Igreja e na sociedade e a promover uma relação construtiva entre ambas” (CNBB, Doc 105, n. 122).
Tal realidade da identidade e missão do leigo na Igreja e no mundo deve ser a cada dia aprofundada e tornada uma vivência de fato, a fim de que as forças vivas das nossas comunidades de fé possam ser ainda mais entusiastas de uma sociedade renovada segundo o projeto do Reino, que se torna próximo a cada um de nós.
Pe. José Cleiton Barbosa
Administrador Paroquial de São Vicente Férrer