Um momento marcante e histórico para a Diocese de Nazaré nesta terça-feira, 6 de fevereiro de 2024, com a abertura da Causa de Beatificação e Canonização do Servo de Deus Pe. Luís Cecchin. A partir de agora, oficialmente, tem início o inquérito diocesano sobre a vida, as virtudes e a fama de santidade do dito Servo de Deus.
A programação começou com a santa missa (confira no Youtube), às 18h30, na Matriz de São Sebastião de Limoeiro, onde o Pe. Luís está sepultado. A celebração foi presidida pelo bispo diocesano, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, que, em sua homilia, descreveu o referido sacerdote como um “evangelho vivo”:
“Pe. Luís nos mostra que a vida missionária é um caminho de amor nas periferias existenciais. Padre diocesano, (…) missionário, passou aqui mais de 40 anos vivendo na intensa caridade, acolhendo as crianças e adolescentes pobres e famílias em situação de risco e vulnerabilidade social. (…) O que fazia era por amor”, disse.
A partir das leituras da liturgia, o prelado destacou dois aspectos bem presentes na pessoa do padre Luís Cecchin: a oração e a ação. “Uma oração desencarnada da realidade, ou que não seja resultado da prática, ou com o propósito de uma prática, perde o sentido ou se desfigura. Assim, cabe a cada um de nós, à luz dos textos propostos para a liturgia de hoje, pensar sobre nossa vida de oração, a qualidade dela e verificar se ela está sintonizada com a ação”.
Estavam presentes na celebração: bispos (Dom Severino Batista, emérito de Nazaré; Dom Bernardino Marchió, emérito de Caruaru), padres e diáconos do clero diocesano; sacerdotes religiosos, dentre eles os calabrianos (Pobres Servos da Divina Providência – PSDP), responsáveis pela administração do Instituto Pe. Luís Cecchin – IPLC; presbíteros de outras dioceses, alguns filhos da terra, outros da Diocese de Treviso (Don Livio Buso e Don Luca Biasini) – diocese de origem do padre Luís; representação da AVATeM (o presidente Renzo Compostella e sua esposa Loretta Maschio) – formada por familiares e amigos do Pe. Luís, benfeitores italianos, parceiros do instituto; religiosos(as), seminaristas, Mescs, coroinhas e fiéis em geral, além de autoridades constituídas: o Sr. Orlando Jorge Pereira, prefeito Limoeiro, e a primeira-dama, Flávia Melo; o Sr. Cléber Chaparral, deputado estadual, e a Sra. Juliana Chaparral, prefeita de Casinhas.
Dom Lucena concluiu sua homilia citando um trecho da carta enviada por Dom Tomasi, bispo de Treviso: “Alegria: porque é também um grande dom para toda a nossa diocese de Treviso, e em particular para o nosso presbitério diocesano, conhecer esse amor e dedicação ao ministério vivido por Pe. Luís, que continua a ser fecundo, a ponto de suscitar, no povo que amou e serviu, o desejo de que a Igreja reconheça oficialmente o seu caminho de santidade”.
Na procissão das oferendas, durante a santa missa, foram apresentados alguns objetos usados pelo padre Luís Cecchin, como marcas de sua vocação e serviço tão intensamente vividos na cidade de Limoeiro (maleta, sandálias, estola, boina). Tudo isso como expressão de sua missionariedade e dos valores cristãos que propagou, nos lugares por onde passou e na vida de cada pessoa que encontrou (crianças, jovens, adultos e famílias).
SESSÃO PÚBLICA
A Sessão Pública de abertura da Causa (confira no Youtube) aconteceu logo após a celebração eucarística, às 20h, no pátio do Instituto Pe. Luís Cecchin, e reuniu grande número de pessoas (bispos, padres, diáconos, religiosos(as), seminaristas, fiéis, autoridades civis), incluindo funcionários, crianças, adolescentes, jovens e famílias assistidos pelo IPLC. O momento contou com a acolhida do Encontro de Jovens com Cristo (EJC) e uma apresentação do coral de crianças e adolescentes do próprio instituto.
A mesa foi composta pelo tribunal constituído para o acompanhamento desta primeira etapa, cujos membros, legitimamente instituídos, foram apresentados e realizaram o juramento solene durante a referida sessão pública, juntamente com o bispo diocesano, Dom Francisco Lucena: Delegado Episcopal, Revmo. Pe. José Ícaro de Lima e Silva; Promotor de Justiça, Revmo. Pe. Ayrton Barbosa da Silva Filho; Notário Atuário, Illmo. Dr. Ronaldo Frigini; Postulador da Causa, Dr. Paolo Vilotta.
Após a composição da mesa, cantou-se o Veni Creator Spiritus e realizou-se a leitura de uma breve biografia do padre Luís Cecchin. Na sequência, o chanceler da Cúria Diocesana, Pe. Tony Morais, leu o Rescrito do Dicastério para a Causa dos Santos (sobre o início do processo de Beatificação e Canonização do Pe. Luís Cecchin) e a ata da sessão pública de abertura. Em seguida, houve o juramento do referido tribunal, cuja sede será em Nazaré da Mata (Cúria Diocesana).
Posteriormente, foi realizada a leitura de duas cartas enviadas: uma pela AVATteM e outra pela Diocese de Treviso. Em ambas, uma manifestação de alegria e gratidão pelo início da abertura da Causa do Pe. Luís, que viveu e testemunhou o evangelho do amor, sobretudo aos mais pobres, aos pequenos, aos últimos.
Don Livio Buso, da Diocese de Treviso, também deixou sua mensagem, agradecendo a oportunidade de estar prestigiando esse momento tão importante. Ele partilhou que conheceu o padre Luís Cecchin em seus últimos momentos de vida, já enfermo no hospital, e, instigado pelo exemplo de vida do Servo de Deus, declarou: “sejamos homens e mulheres de fé, para nos tornarmos homens e mulheres de caridade”.
Depois, o padre Adelmo Cagliari, PSDP, presidente do Instituto Pe. Luís Cecchin, realizou uma série de agradecimentos: aos bispos presentes, ao clero diocesano, aos padres da Diocese de Treviso e de outras dioceses; aos religiosos(as), especialmente às Irmãs Pobres Servas da Divina Providência, que colaboram com os trabalhos do instituto, e às Franciscanas de Maristella, que tiveram um papel fundamental na construção da obra do padre Luís; a todos os que fazem o IPLC (funcionários, pessoas assistidas, parceiros: AVATeM e outras instituições italianas, prefeitura e comércio de Limoeiro, deputados, vereadores e benfeitores locais); às três paróquias de Limoeiro, na pessoa de cada um dos seus representantes: Pe. Ícaro Lima (administrador paroquial de São Sebastião), Pe. Severino João (pároco da Apresentação) e Pe. Osmair Collazziol (pároco do Carmo). E concluiu: “Pe. Luís reuniu diante de si, nesta noite, essa multidão toda. Vamos fazer essa caminhada em profunda comunhão com a Diocese de Nazaré”.
Por fim, o bispo diocesano, Dom Francisco Lucena, também agradeceu a presença, trabalho e ajuda de todos, enfatizando que o “padre Luís Cecchin continua presente em nosso meio pela obra que ele deixou”. E prosseguiu: “sinto-os fortalecidos pela ação e oração do Pe. Luís. Esta Causa já está no coração do povo”, informando que no próximo mês, na celebração eucarística que marca o 14º aniversário de falecimento do Pe. Luís Cecchin (26 de março de 2024), será distribuída a oração pela sua beatificação. O prelado concluiu seu pronunciamento pedindo a intercessão do Servo de Deus.
Também foi constituída uma Comissão de Peritos em História, cuja função é recolher todos os escritos e documentos sobre o padre Luís, segundo as normas da legislação vigente das Causas dos Santos. A referida comissão está assim composta: Revmo. Pe. Marcos Antonio de Arruda Moura, presidente; Revmo. Pe. Adelmo Cagliari, PSDP, componente; Illma. Dra. Ana Patrícia de Almeida, componente; Illmo. Sr. Beniamino Fantinato, componente; Illmo. Sr. Dênes Francisco Gomes de Souza, componente.
BREVE HISTÓRICO DO PE. LUÍS CECCHIN
Padre Luís Cecchin nasceu no dia 11 de dezembro de 1924, em San Martino di Lupari, Padova, Itália; é filho de Giovanni Cecchin e de Anna Bolzon. No dia 18 de outubro de 1937, ingressou no Seminário Diocesano de Treviso. Foi ordenado presbítero aos 26 de junho de 1949. Sacerdote equilibrado, muito ligado ao Concílio Vaticano II, tornou-se, em 1964, diretor espiritual do seminário.
No dia 6 de janeiro de 1969, recebeu um mandato missionário da sua paróquia de origem, Galliera Veneta, sendo enviado ao Brasil, à Diocese da Nazaré, Estado de Pernambuco. No dia 25 de janeiro de 1969, padre Luís partiu de Gênova, de navio. Desembarcou no Rio de janeiro em 6 de fevereiro daquele mesmo ano. Depois de três meses de estudo da Língua Portuguesa, no dia 26 de maio de 1969, chegou a Limoeiro, unindo-se ao ministério dos outros dois sacerdotes “fidei donum”, o Pe. Giorgio Barbieri, de Treviso, e o Pe. Alfonso Pontoglio, de Bergamo.
Padre Luís sabia que não podia celebrar o Senhor na Igreja e esquecê-lo fora dela. Assim, com a colaboração das Irmãs Franciscanas de Maristela, começou a recolher crianças e adolescentes de rua e de famílias marginalizadas. Em 1970, nasceu o “Centro de Formação de Menores”. Em 1984, padre Luís foi convidado pelo bispo de Nazaré, na época Dom Manuel Lisboa, para ser pároco da menor paróquia da diocese, Chã de Alegria. Desempenhou o seu ministério em Chã de Alegria até 1992, dando continuidade a sua obra concreta e eficaz de resgate dos últimos.
Sua obra social foi reconhecida também pela administração civil; foi declarado cidadão limoeirense em 1989 e cidadão pernambucano em 2009. No dia 9 de julho de 2008, foi nomeado pelo bispo de Nazaré, Dom Severino Batista de França, vigário paroquial da Paróquia São Sebastião, em Limoeiro, cuja igreja ele havia reestruturado e ampliado, e onde permaneceu em missão por 40 anos.
Nos últimos meses de 2009, descobriu que estava doente, retornou à Itália no dia 28 de fevereiro de 2010. Padre Luís fez sua páscoa no dia 26 de março de 2010, na casa de seu irmão Ângelo, em Mussolente, quando no Brasil ainda era o dia 25 de março, dia do “sim” de Maria na Anunciação. Ele sempre dissera: “o ‘sim’ de Maria gerou o meu ‘sim’”.
Depois da celebração do seu funeral em Mussolente e na paróquia de Galliera Veneta, foi realizado o translado do seu corpo para Limoeiro – Pernambuco – Brasil. No dia 5 de abril de 2010, segunda-feira, após a Páscoa, o corpo do padre Luís foi acompanhado por uma grande multidão e está sepultado ao lado do altar, na Matriz de São Sebastião. Em sua homenagem, o então “Centro de Formação de Menores” passou a ser chamado de “Instituto Padre Luís Cecchin”.
* Imagem de capa: Pascom Carmo Limoeiro