O bispo diocesano de Nazaré, Dom Francisco Lucena, recebeu mais um título, desta vez o título de cidadão pernambucano. A entrega da honraria aconteceu ontem, terça-feira, às 18h, em reunião solene no Auditório Senador Sérgio Guerra, na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (ALEPE). O momento foi animado pelo Coral Vozes de Pernambuco, formado por servidores da Alepe.
O presidente da mesa, na ocasião, foi o deputado Joaquim Lira que, em sua fala de abertura, declarou: “esta casa, a casa de todos os pernambucanos e de todas as pernambucanas, abre as portas para lhe conceder talvez a mais importante honraria para um cidadão que reside em nosso território, não por laços sanguíneos, mas por laços afetivos, […] a honraria da cidadania pernambucana”.
O autor da propositura foi o deputado Clodoaldo Magalhães (PV), que destacou os trabalhos de assistência religiosa, espiritual, formativa e social desenvolvidos pelo prelado. “A cidadania pernambucana, aqui, sempre é outorgada pela construção de um talento que gerou a visibilidade e a simbologia do que é pernambucanidade. E o talento que lhe permite, hoje, receber essa honraria, ou o povo pernambucano lhe agradecer, em nome dos parlamentares, é um talento especial e diferenciado; é tão diferenciado que para o senhor estar aqui hoje foi preciso muita oração, pra lhe permitir aceitar tamanha honraria, já que é uma honraria ilusória e passageira dos homens, e o seu ministério não é deste mundo”, disse em seu discurso.
“’Lux Vestra Luceat’ [“Que brilhe a vossa luz” – Mt 5,16] é também o lema episcopal de Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, reverendíssimo bispo da Diocese de Nazaré, representante do Papa Francisco, outro Francisco, na sua trajetória à eternidade, a quem temos a honra de receber aqui na Assembleia Legislativa do Estado, para entregar-lhe o título honorífico de cidadão pernambucano na noite de hoje”, expressou o parlamentar.
E prosseguiu: “A escolha desse lema não podia ser mais inspiradora, apropriada e condizente com toda a trajetória de vida sua, Dom Francisco, tanto como servo de Deus, como quanto pastor de seu rebanho. Afinal, uma de suas grandes marcas é, justamente, o ardor missionário, fazendo sempre questão de estar no meio do povo para conhecê-lo, instruí-lo e servi-lo; […] só se serve como pastor de ovelhas estando no meio delas para acolhê-las em nome do amor misericordioso do Pai”.
Em seu discurso, comovido de agradecimento, o bispo diocesano atribui o título que lhe foi conferido à Igreja Católica Apostólica Romana, à Diocese de Nazaré. “Mais que minha pessoa, é a Igreja que o recebe”, afirmou. Confira, na íntegra, o discurso de Dom Lucena na Alepe:
Excelentíssimos Senhores Deputados: Senhor Presidente desta sessão solene, Deputado Joaquim Lira; Deputado Clodoaldo Magalhães, Autor da propositura de concessão do título de Cidadão Pernambucano à minha pessoa; Deputado Antônio Moraes; prefeito de Nazaré da Mata, Inácio Manoel do Nascimento; prefeito de Macaparana, Paulo Barbosa da Silva; bispo auxiliar de Olinda e Recife, Dom Limacêdo Antonio; padre Marisaldo Barbosa (Diocese de Nazaré), seminaristas maiores, demais autoridades presentes, meus senhores, minhas senhoras, meus amigos.
Permitam-me uma palavra comovida de agradecimento pela concessão deste título de cidadão pernambucano, que muito me honra.
O Estado de Pernambuco é a sétima unidade federativa mais populosa do Brasil, fazendo parte do seu território os arquipélagos de Fernando de Noronha e São Pedro e São Paulo. Estar aqui, nesta casa, como pernambucano, com todos aqui presentes, é para mim um grande estímulo e incentivo em minha caminhada. Uma presença de apoio, de encorajamento, que sinaliza o que o Espírito Santo de Deus faz conosco: sempre nos animando, dando um voto de confiança, para que sejamos cada dia melhores.
Este título atribuo à Igreja Católica Apostólica Romana, à Diocese de Nazaré, da qual sou bispo neste Estado. Mais que minha pessoa, é a Igreja que o recebe. Não ignoro que outros talvez mereçam mais que eu este título, mas com humildade o acolho em respeito a todos que, ao se fazerem presentes aqui, o aprovam. Meu muito obrigado!
Pernambuco com sua história, riquezas, encantos, lutas, cultura, movimentos e religião, com suas várias manifestações tradicionais. Com a presença da Igreja Católica Romana, desde os primórdios, nestas Terras de Santa Cruz, é inegável a presença da Igreja Católica neste Estado de Pernambuco. Que Pernambuco possa cultivar suas raízes cristãs, preservando os valores cristãos da justiça, da partilha, da fraternidade e da paz. Assim, todos terão, a partir da fé cristã, a verdadeira dignidade humana, que não existe sem Deus. Pois “se não é Deus que constrói, em vão trabalham os construtores” (Sl 127).
A maravilha do pavilhão estadual que contém a Cruz de Cristo e a beleza do seu hino em que Pernambuco convida o seu povo a viver da imortalidade ao lado de Deus:
“Salve, ó terra dos altos coqueiros,
de belezas soberbo estendal!
Nova Roma de bravos guerreiros,
Pernambuco imortal! Imortal!”Ser cidadão pernambucano é comprometer-se a trabalhar pela união de todos, em torno de princípios que levem a população ao desenvolvimento e progresso, capazes de trazer não somente pão e trabalho para todos, mas sobretudo dignidade. E aqui entra a fé em Deus. É preciso pautar o desenvolvimento com a fé em Deus e resgatar os Dez Mandamentos da Lei de Deus, que está na Sagrada Escritura, bem como as Bem-aventuranças que Jesus nos ensinou como normas de vida. Isto não somente nos trará a paz, mas também o progresso, porque nos ajudará a combater o egoísmo e a inveja.
O povo pernambucano sonha com o progresso deste Estado. É próprio do ser humano imaginar horizontes imensos, vastos como sua imaginação. Nossos sonhos fazem nascer em nós o desejo de mudar o mundo em que vivemos, não nos conformando passivamente com a realidade que nos cerca. No mais profundo do coração dos que sonham há uma força que os impulsiona, que os deixa inconformados e os torna capazes de dar a vida para a construção de um mundo melhor.
Temos sonhos porque o Criador faz arder em nosso coração a chama do infinito. “Feliz de quem atravessa a vida tendo mil razões para viver”, dizia Dom Helder Câmara. É em vista dessas razões que vivemos inquietos e inconformados, que trabalhamos e nos colocamos a serviço dos outros, que sofremos e enfrentamos desafios. Mas em que direção caminhamos? Conseguiremos acabar com as exclusões e com as diferenças gritantes que nos rodeiam? Devemos caminhar convictos de que, assim como Jesus acompanha nossos passos a cada dia de nossa vida, Ele nos acolherá no final, se lhe formos fiéis. Afinal, Ele é nosso principio, nossa vida e nosso guia; é nossa confiança e nosso fim.
O título de cidadão pernambucano comoveu-me e me deixou feliz, porque agora me sinto mais integrado à comunidade deste Estado, no qual a Diocese de Nazaré está inserida. Abrir espaço para os que chegam, integrar, ser abraçado pela coletividade, é este o significado do título que me deram. Mas ele enaltece também esta Casa que, ao conferir esta honraria em nome do povo, a alguns membros da comunidade, demonstra a grandeza daqueles que conhecem o mandamento bíblico de acolher os peregrinos, sem discriminá-los.
Quando vim para a Diocese de Nazaré, neste Estado de Pernambuco, designado pelo Papa Francisco como seu oitavo Bispo Diocesano, cheguei como peregrino, firmado na fé de estar cumprindo a vontade de Deus em minha vida. Fui conhecendo inúmeras pessoas e entidades de todos os setores da sociedade pernambucana.
Este título de cidadão permite sentir-me acolhido entre este povo generoso e trabalhador. Meus sinceros agradecimentos a todos, em especial ao Deputado Clodoaldo Magalhães. Que Deus abençoe sua família e seu mandato em favor de nossa população, especialmente dos mais necessitados, pobres e carentes.
Muito se progrediu e muito já foi feito em favor de Pernambuco. É preciso continuar a trabalhar por um Pernambuco assim: mais humano, onde haja amor e paz para todos, e uma convivência sem exclusão. Isto fará Pernambuco renascer a cada dia, com projetos ousados, principalmente na área social. Isto é possível, por mais difícil que seja o momento histórico que atravessa nossa nação e o mundo. Saibamos que o futuro deste Estado passa pela solidariedade, mesmo que custe o próprio sangue e a vida, como expressa a bela canção da polícia militar de Pernambuco:
“Do sertão, do agreste e da mata
Das campinas ridentes em flor
Esta força de filhos se integra
Que a servem com fé e amor.
Lá de cima dos montes sagrados,
Guararapes, com sangue e com vida,
Camarão e avós indomáveis,
Nos legaram esta Pátria querida”.Que Pernambuco possa florescer cada dia, transformando as dificuldades da vida em flores que perfumam a vida de todos. Florescer lembra jardim, e eu nasci em Jardim do Seridó, no Rio Grande do Norte; jardim lembra o Jardim do Paraíso, no qual Deus criou o ser humano segundo o relato bíblico. Que Pernambuco tenha o sonho de ser um jardim onde o ser humano conviva em paz com os outros e com a natureza, mas sobretudo com Deus.
Como todos os Senhores e Senhoras, cidadãos e cidadãs deste Estado, eu amo Pernambuco e, de agora em diante, muito mais ainda como seu cidadão. MUITO OBRIGADO A TODOS!
Recife-PE, 03 de maio de 2022
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena
Bispo de Nazaré – PE
Imagem de capa: Leoncio Francisco