Homilia na Solenidade de Corpus Christi, 31 de maio de 2018
Hoje festejamos a Solenidade do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesta quinta-feira, 31 de maio, encerramos o mês mariano com a coroação de Nossa Senhora e, celebrando a Eucaristia, sairemos em procissão com o Santíssimo Sacramento pelas ruas de nossa cidade, manifestando publicamente a nossa fé na presença real de Jesus na Eucaristia.
Maria é mulher eucarística na totalidade de sua vida. Na anunciação, ela concebeu o filho divino também na realidade física do corpo e sangue, antecipando em sua vida o que se realiza, de modo sacramental, em cada pessoa que recebe o corpo e o sangue do Senhor. Com Maria, adoramos o Deus conosco. Maria é a perfeita adoradora de Deus, porque reconhece Deus com suas palavras, sua meditação e a vida concreta.
“Adorar a Deus é, como Maria, no Magnificat, louvá-Lo, exaltá-LO e humilhar-se, confessando, com gratidão, que Ele fez grandes coisas e que o Seu nome é Santo” (CIC – 2097)
2.”Ouvimos que, na ceia, Jesus oferece o seu corpo e o seu sangue, mediante o pão e o vinho, para nos deixar o memorial do seu sacrifício de amor infinito. E com este alimento, repleto de graça, os discípulos dispõem de tudo o que necessitam para o seu caminho. Luz e força serão para eles o dom que Jesus fez de si mesmo, imolando-se voluntariamente na cruz. E este Pão de vida chegou até nós! Nunca termina a admiração da Igreja perante esta realidade. Uma admiração que alimenta sempre a contemplação, a adoração e a memória. Como no-lo demonstra um texto muito bonito da Liturgia de hoje, no Ofício das Leituras, que reza assim: «Reconhecei neste pão Aquele que foi crucificado; no cálice, o Sangue que jorrou do seu lado. Tomai e comei o Corpo de Cristo, bebei o seu Sangue: porque agora sois membros de Cristo. Para não vos desagregardes, comei este vínculo de comunhão; para não vos aviltardes, bebei o preço do vosso resgate»”.
Existe um perigo, para todos nós: desagregar-se, desprezar-se. O que significa, hoje, no mundo atual, este desagregar-se? Este desprezar-se?
“Nós nos desagregamos quando não somos dóceis à Palavra do Senhor, quando não vivemos a fraternidade entre nós, quando competimos para ocupar os primeiros lugares, quando não encontramos a coragem de dar testemunho da caridade, quando não somos capazes de oferecer esperança. É assim que nos desagregamos. A Eucaristia impede que nos desagreguemos, porque é vínculo de comunhão, cumprimento da Aliança e sinal vivo do amor de Cristo, que se humilhou e se aniquilou para que nós permanecêssemos unidos. Participando na Eucaristia e alimentando-nos dela, somos inseridos num caminho que não admite divisões. Cristo presente no meio de nós, no sinal do pão e do vinho, exige que a força do amor ultrapasse todas as divisões e, ao mesmo tempo, que se torne comunhão inclusive com o mais pobre, força para quem é frágil, atenção fraterna a quantos têm dificuldade de carregar o peso da vida quotidiana, e correm o perigo de perder a própria fé.
Além disso, há outra palavra: o que significa para nós, hoje, desprezar-nos, ou seja, diluirmos a nossa dignidade cristã? Significa deixar-nos contaminar pelas idolatrias do nosso tempo: o aparecer, o consumir, o eu no centro de tudo; mas também o ser competitivo, a arrogância como atitude vencedora, o nunca admitir que erramos, que temos necessidade. É tudo isto que nos despreza, que nos torna cristãos medíocres, pagãos.
Jesus derramou o seu Sangue como preço em resgate, para que nós fôssemos purificados de todos os nossos pecados: para não nos desprezarmos, fixemos o nosso olhar nele, saciemo-nos na sua fonte, a fim de sermos preservados do risco da corrupção. E então experimentaremos a graça de uma transformação: seremos sempre pobres pecadores, mas o Sangue de Cristo nos liberta dos nossos pecados, nos restitui à nossa dignidade. Livra-nos da nossa corrupção. Sem o nosso mérito, com humildade sincera, conseguiremos levar aos irmãos o amor de nosso Senhor e Salvador. Seremos os seus olhos, que vão à procura de Zaqueu e de Madalena; seremos as suas mãos, que socorrem os enfermos no corpo e no espírito; seremos o seu Coração que ama os necessitados de reconciliação, de misericórdia e de compreensão”.
Deste modo a Eucaristia atualiza a Aliança que nos santifica, que nos purifica e que nos põe em comunhão admirável com Deus. Assim aprendemos que a Eucaristia não é uma recompensa para os bons, mas constitui a força para os mais frágeis, para os pecadores. É o perdão, é o alimento que nos ajuda a ir em frente, a caminhar; como faremos, daqui a instantes, com o Santíssimo Sacramento, pelas principais ruas da nossa cidade.
“Hoje, festa de Corpus Christi, dia santo, temos a alegria não só de celebrar este mistério, mas também de o louvar e cantar pelas ruas da nossa cidade. A procissão que faremos no final desta Missa seja a manifestação do nosso reconhecimento por todo o caminho que Deus nos permitiu percorrer através do deserto das nossas pobrezas, a fim de nos levar a sair da nossa condição de pecado, alimentando-nos com o seu Amor mediante o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue”.
Daqui a pouco, enquanto caminharemos ao longo das ruas, sintamo-nos unidos em comunhão com muitos dos nossos irmãos e irmãs que não têm a liberdade de manifestar a sua fé no Senhor Jesus. Como também o sangue de muitos, o sangue de muitos de nossos irmãos e irmãs, hoje, unido ao Sangue do Senhor, seja penhor de paz e de reconciliação para o mundo inteiro; para o nosso Brasil, para os momentos que vivemos atualmente.
“E não esqueçamos: «Para não vos desagregardes, comei este vínculo de comunhão, e para não vos desprezardes, bebei o preço do vosso resgate»”.
Obrigado, Senhor! Obrigado por esse amor tão grande, que te fez a nós te entregares, assim, totalmente. Dai-nos a graça de receber teu corpo e sangue, a fim de que, plenos do Espírito Santo, e na força do Mesmo Espírito, possamos fazer de nossa vida uma entrega a Ti, e por Ti chegarmos ao Pai, onde estás.
Jesus é nosso pão. Que não falte o pão, este pão consagrado, na nossa vida, no nosso coração. Que não falte o pão de cada dia na mesa das nossas famílias. Jesus é o nosso pão, Jesus é o nosso sangue, Jesus é nosso alimento! Jesus Eucaristia. Eucacaristia: amor de Deus por nós.
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena
Bispo de Nazaré – PE