A Diocese de Nazaré realizou, na última sexta-feira (05), das 08h às 16h, a sua 20ª Assembleia Diocesana de Pastoral. O encontro aconteceu no Centro Diocesano de Pastoral (CDP), em Carpina-PE, e contou com um número reduzido de participantes, em razão das medidas preventivas contra a Covid-19. Estiveram presentes padres, diáconos permanentes e transitórios, representantes de institutos religiosos e novas comunidades e coordenadores leigos dos diversos movimentos, pastorais e serviços.
Com o tema: “Reinvenção Pastoral: novos métodos e estratégias” e lema: “A Palavra se fez carne” (Cf Jo 1,14), a 20ª Assembleia de Pastoral deveria ter acontecido em novembro do ano passado, mas teve que ser adiada em razão das circunstâncias impostas pela pandemia do novo coronavírus. Para o bom andamento dos trabalhos, foram tomadas todas as medidas de segurança necessárias: uso obrigatório de máscara, higienização das mãos, distanciamento e número restrito de pessoas.
O assessor do encontro foi o diácono Sérgio Sezino Douets Vasconcelos (Arquidiocese de Olinda e Recife), professor da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), que discorreu sobre os desafios e perspectivas pastorais em tempos de pandemia à luz do Plano Diocesano de Pastoral (2020-2023) e do Ano da Família (Ano “Família Amoris Laetitia”).
A palavra de abertura foi do bispo diocesano, Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, que acolheu os presentes e fez um questionamento instigador: “será que essa pandemia pode mexer conosco, provocando um novo despertar pastoral?”. E prosseguiu: “esta assembleia é muito importante, pois estamos iniciando um novo ano pastoral e precisamos interpretar a realidade atual, a fim de nos desfazermos do habitual, do velho, que insiste em se repetir, para encontrarmos novos caminhos”, disse.
Dom Lucena afirmou que esta é a ocasião de renovar tudo: estruturas, métodos e uma nova consciência pastoral e missionária. “Eis o tempo! Desafios novos! Estamos percebendo? Temos que trabalhar o coração humano. Não podemos desanimar! É tempo bom para semear. Não podemos nos fechar, mas nos abrirmos à missão nas comunidades, famílias e pequenos grupos. Vamos andar, semeando e encontrando a alegria da caminhada”, motivou.
Na sequência, o assessor iniciou sua fala declarando que, apesar das dores e sofrimentos do momento atual, este é um tempo “kairótico”, de possíveis transformações e denso de possibilidades existenciais (antropológicas), eclesiais e também pastorais. Foi a partir desses três aspectos que ele estruturou sua reflexão.
No primeiro ponto, referente à dimensão antropológica, o diácono explanou como a pandemia do novo coronavírus nos (re)colocou, radicalmente, diante de algumas questões existenciais: recordando a finitude da nossa existência, colocando em cheque nossos narcisismos e a embriaguez exacerbada de consumo, revelando, para muitos, a dificuldade de conviver consigo mesmo (como reflexo de um ativismo que sinaliza fuga). E mais: obrigou-nos a uma retomada da convivência familiar mais intensa, mostrou a fragilidade dos sistemas econômicos e evidenciou o descaso do nosso estilo de vida no tocante às suas consequências para com a natureza.
Diante do exposto, o professor Sérgio Sezino foi enfático ao asseverar que ficar esperando o retorno do “normal” é não ter aprendido nada com a pandemia. “Cabe a nós decidirmos se vamos ficar, impacientemente, esperando ‘voltar ao normal’, ‘à vida de antes’, porque nos acostumamos com uma anormalidade desumanizadora e frenética, ou vamos aproveitar este tempo como um tempo de possibilidades, para construirmos um novo projeto de vida pessoal e eclesial”, provocou.
Para a Igreja, conforme apresentou, citando o Doc. 100 da CNBB, as possibilidades de mudança também são bastante amplas, uma vez que foi possível perceber que “templo fechado” não significa “igreja fechada”, pois “não é o prédio, mas a experiência que constitui a Igreja”. Nas suas colocações, ele evidenciou os muitos desafios que a Igreja foi “forçada” a superar, reinventando e ampliando a sua ação pastoral.
Segundo o diácono, ainda referente à dimensão eclesial, as circunstâncias impostas pela pandemia revelaram um analfabetismo do verdadeiro significado de “comunhão espiritual”, fruto de uma carência da real compreensão de igreja como corpo (“se um comunga, todos comungam”). Além disso, notou-se, em muitas paróquias, a fragilidade no uso dos meios de comunicação social, ao mesmo tempo em que se revelou todo o potencial das equipes da Pastoral da Comunicação (Pascom).
“O desafio da urgência da utilização das novas mídias, no contexto da pandemia, nos revelou o quanto ainda estamos distantes ou quase que ausentes ‘das novas territorialidades’, que nos alertava o Doc. 100 da CNBB”, afirmou.
Na dimensão pastoral, Sergio Sezinho foi incisivo ao defender que, a partir de agora, é preciso pensar a ação pastoral inserindo o ambiente digital nas suas estratégias (formações, reuniões, encontros, planejamentos). Para isso, é necessário qualificar bem os agentes envolvidos na Pascom, principalmente no âmbito paroquial, a fim de alcançar maior eficácia e qualidade nos trabalhos realizados.
Além disso, destacou, a pandemia sensibilizou muitas pessoas e grupos nas paróquias, pastorais e movimentos, que promoveram bastantes ações de caridade (doação de alimentos, roupas, materiais de higiene pessoal etc.), criando uma grande rede de solidariedade.
Em sua opinião, contudo, a atuação da pastoral da comunicação ainda se centra muito mais na dimensão litúrgica e devocional que no campo pastoral, propriamente dito. E isso precisa ser superado, tendo em vista que a missão da Pascom, por excelência, é “mostrar as forças vivas da paróquia, da diocese, do corpo”.
O professor da UNICAP afirmou, ainda, que o contexto da Pandemia revelou a nossa fragilidade em relação à dimensão da Palavra, uma carência de “cultura bíblica”, como descreveu. “Observou-se que, em muitas paróquias, não houve uma adesão ao incentivo de favorecer a experiência das celebrações da Palavra nas famílias”, disse. Nesse aspecto, em que o fundamento da fé de muitos ainda está centralizado na devoção, ele recordou que as próprias Diretrizes (DGAE 2019-2023) apresentam a urgência da Palavra, incentivando a vivência da igreja nas casas e favorecendo a experiência das celebrações em família, a fim de que sejam formados verdadeiros discípulos para o séc. XXI.
Diante do convite do Papa Francisco a vivenciarmos o Ano de São José e o Ano “Família Amoris Laetitia”, o assessor da 20ª Assembleia de Pastoral assinalou ser este um momento oportuno para mergulharmos na mística do homem simples (carpinteiro) de Nazaré e revisitarmos a riqueza da encíclica Amoris Laetitia. Outras propostas pastorais apresentadas pelo diácono foram: a possibilidade de pensar em uma escola de formação online e a criação de um espaço para escuta, aconselhamento e orientação espiritual nas igrejas.
“Seria uma pena, ou melhor, seria um desastre para a Igreja passar por este tempo, esperando voltar ‘à vidinha de antes’, voltar, muitas vezes, a uma pastoral de manutenção, da qual nós já sabemos os limites e, até mesmo, as patologias” (cf. Doc. 100 da CNBB), comentou.
Após a conferência central da Assembleia, todos os participantes foram divididos em grupos (por Região Pastoral) para uma avaliação das ações realizadas no ano passado e pensar algumas questões para este novo ano, tendo em vista o nosso Plano Diocesano de Pastoral (2020-2023), as DGAE (2019-2023) e o Pilar da Palavra proposto pelo Regional NE2 da CNNB para 2021, o Ano de São José e o Ano Amoris Laetitia (Ano da Família):
1. AVALIAR: Quais foram as experiências do Pilar do Pão vivenciadas em nossas comunidades?
2. PLANEJAR: Olhando o nosso Plano Diocesano de Pastoral (2020-2023), sustentado pelos 4 pilares (Pão, Palavra, Caridade e Missão), quais as ações pastorais podem ser executadas em toda a diocese (paróquias, áreas, setores, pastorais, movimentos, serviços e organismos) neste ano de 2021?
A partilha dos grupos abriu a programação da tarde, após o almoço. Um representante de cada Região Pastoral socializou os pontos elencados pelo grupo acerca de cada uma das perguntas propostas.
Referente à primeira questão (AVALIAÇÃO), foram destacados: a realização de formações litúrgicas e semanas eucarísticas, comemoração de meses e semanas temáticas (mês mariano, mês da bíblia, mês da missão; semana da família e do nascituro, novena de natal), transmissão das missas pelas redes sociais, aumento do número de celebrações para atender o maior número de fiéis (resgate da centralidade do domingo como Dia do Senhor), estímulo ao fortalecimento da igreja doméstica, ajuda aos mais necessitados (ações de caridade), promoção da piedade popular (terços, passeios motorizados com o Santíssimo Sacramento e a imagem do padroeiro(a)), catequese e escola bíblica online e formação remota para os diversos movimentos e pastorais, integração e readaptação das pastorais para a reabertura dos templos.
No tocante ao PLANEJAMENTO de ações para este ano, algumas propostas foram apresentadas: retomada sistemática das formações para leigos, catequese híbrida (online e presencial), formação para ministros da Palavra, estudo sobre a Amoris Laetitia (fortalecer o trabalho da pastoral familiar) e sobre a vida de São José (vivenciar a “espiritualidade de Nazaré”), aprimorar a formação técnica dos membros da pastoral da comunicação, fortalecer a Escola da Fé nas paróquias, vivenciar bem os meses temáticos e litúrgicos.
Após as colocações dos grupos, o bispo diocesano tomou a palavra e trouxe algumas informações importantes: novos grupos de catequese, nas paróquias, áreas e setores pastorais, só serão iniciados a partir de julho, no segundo semestre do ano; os seminaristas iniciarão o semestre letivo ainda com aulas remotas e em casa; serão reunidos, junto com o bispo, o coordenador diocesano de pastoral e padres de paróquias cujo padroeiro seja São José para a composição de um texto com a novena de São José, a nível diocesano, a ser vivenciado pelas comunidades paroquiais.
Sobre os retiros de carnaval, Dom Lucena afirmou que eles podem acontecer de forma remota ou nas próprias paróquias, em lugares abertos, horários específicos, sem alojamento e com participação restrita aos fiéis da comunidade local. Nesse momento, ainda, disse o bispo, não se recomenda a realização de missa campal (ao ar livre), justamente com a finalidade de evitar grandes aglomerações, uma vez que, nestas condições, controlar a quantidade de pessoas (de participantes) se torna muito difícil.