Teve início nessa segunda-feira, 25 de abril, a primeira etapa da 59ª Assembleia Geral da CNBB, que se realiza até sexta-feira, dia 29 de abril, na modalidade on-line. O último assunto em pauta no período da manhã tratou sobre a comunicação no processo eleitoral de 2022. O assunto foi abordado, em cerca de vinte minutos de exposição, pelo professor emérito da Universidade de Brasília e membro do Observatório de Comunicação religiosa da Igreja no Brasil, Venício Lima.
O professor Venício partiu do pressuposto do compromisso comum com a democracia, recordando que ela é um regime político caracterizado pela soberania popular com isonomia (direitos iguais de todas as pessoas perante a lei) e isegoria (direito à palavra e liberdade de expressão).
Em seguida, ele aprofundou sobre a questão de como o Brasil vive a democracia, ressaltando que o país ainda é inexperiente nesse âmbito, devido a uma série de questões históricas, dentre as quais estão os meios de comunicação social, com uma grande responsabilidade.
“No Brasil, a mídia constitui um oligopólio do ponto de vista econômico e opera como um monopólio, do ponto de vista político. Esses fatos perpetuam o grande paradoxo da nossa democracia: o direito ao voto foi universalizado, mas se impede estruturalmente a formação de uma consciência democrática. Tudo isso, claro, é a própria negação da isegoria”, explicou o professor Venício.
Ao avançar na reflexão, abordando diretamente o processo eleitoral de 2022, o professor Venício falou sobre alguns desafios do momento atual, como a questão da disseminação de notícias falsas (fake news) e os questionamentos quanto à credibilidade da Justiça Eleitoral (Tribunal Superior Eleitoral). “2022 não é um ano como qualquer outro. Celebramos o bicentenário de nossa independência política. E as eleições gerais que se realizarão em outubro não são eleições como quaisquer outras. A democracia e suas instituições estão sob ataque reiterado e permanente”, frisou o professor.
Para concluir, Venício falou da grande responsabilidade que a Igreja Católica possui quanto à democracia: “Nesses tempos sombrios, quando a democracia se encontra sitiada, a responsabilidade da Igreja e de suas autoridades é imensa. A CNBB, nas suas sete décadas de existência, tem se constituído em referência ética para os movimentos sociais, as lideranças populares e os formadores de opinião”.
Intervenções dos bispos
Após a exposição do professor Venício, muitos bispos se manifestaram. Além de expor suas ideias e preocupações quanto ao assunto, todos expressaram gratidão ao professor pela reflexão apresentada. “Esse entendimento e horizonte de compreensão é uma coisa nova para nós. Precisamos compreender bem o que foi colocado, a fim de darmos uma ajuda mais significativa nesse momento social do Brasil”, afirmou o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor de Oliveira Azevedo.
O bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Vicente de Paula Ferreira, manifestou a preocupação quanto à violência que alguns bispos têm sofrido com difamações nas redes sociais, questionando: “Como a CNBB pode pensar nessa questão, a partir da fala do professor. Sentimo-nos exilados na própria casa, isso tem influenciado nosso ministério e nossa vida. Como vamos tratar isso?”.
Nessa mesma linha de reflexão, o arcebispo da diocese de Cachoeiro de Itapemirim (ES), dom Luiz Fernando Lisboa, afirmou que hoje se assiste à campanhas abertas contra a Igreja, à CNBB e ao Papa Francisco. “Até um simples comunicado tem reações esdrúxulas e violentas contra a Igreja, os padres e os bispos. Isso confunde muito as pessoas. Temos que ajudar nosso povo a aprender e refletir”, disse dom Lisboa. O bispo destacou ainda que é necessário também alguma formação e orientação para os bispos quanto a realidade da comunicação atual.
O bispo da diocese de Campos (RJ), dom Roberto Francisco Ferrería Paz, também expressou sua preocupação quanto essa questão da violência e destacou que é importante a formação para os fiéis: “Nossas paróquias têm a Pastoral da Comunicação, que poderia fazer programas contra as fake news. Podemos orientar até as pessoas que vêm à missa, por que o nosso povo é extenso e eles mesmos podem ajudar a multiplicar essa formação”.
O bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, dom Joaquim Mol Guimarães, que fez a mediação do tema, concluiu a reflexão propondo ao episcopado aprofundar, posteriormente, todos os temas levantados pelos bispos com o professor Venício, a fim de oferecer-lhes uma reflexão mais completa.
“Precisamos avançar na compreensão da comunicação em todos os momentos, particularmente nesse que estamos. Não podemos permitir moldar nossa mente por meios comunicação que tem por princípio apenas o lucro”, disse dom Joaquim.
- Com colaboração de Karina de Carvalho – CNBB Sul 2
Coletiva de Imprensa
Na coletiva de segunda-feira, o arcebispo de Londrina (PR), Dom Geremias Steinmetz, e o bispo de Tocantinópolis (TO), Dom Giovani Pereira de Melo, falaram, respectivamente, sobre a Cartilha de Orientação Política – elaborada pelo Regional Sul 2 da CNBB – e sobre o Caderno “Encantar a Política’.
Sobre a cartilha, Dom Geremias destacou que a cor predominante – verde – busca expressar esperança e vida. Ele frisou também a inspiração dos textos: a encíclica do Papa Francisco “Fratelli Tutti”. Segundo o arcebispo de Londrina, este documento papal trata, de certa forma, da questão política e desenvolve todo um pensamento em torno do amor político.
Na “Fratelli Tutti”, Dom Geremias afirmou que é possível compreender que não se consegue construir uma sociedade fraterna e solidária sem o amor político. “Ela [encíclica Fratelli Tutti] traz definições sobre caridade, nobreza e bem comum, além de alertar sobre formas de exercer a política que são maléficas para a sociedade”, indicou.
A cartilha, ainda de acordo com o bispo, trata também do conceito de democracia, sistema político, critérios para ser um candidato e como acompanhar e cobrar candidatos. O objetivo é conscientizar.
Segundo o arcebispo de Londrina, os eleitos precisam ser acompanhados e os cidadãos precisam buscar viver uma política em favor da vida integral. “Ninguém se salva sozinho”, pontuou Dom Geremias.
Esperança para o futuro
O bispo sublinhou que a pandemia potencializou problemas como fome, desemprego, dificuldades na educação e habitação (favelas). Por isso, a cartilha defende uma política em favor dos pobres, da ecologia integral e para os jovens.
O objetivo deste documento, explicou, é de trazer esperança para o futuro. “É possível viver a fé na política”, ressaltou. “As eleições devem nos levar a sonhar com dias melhores. O sonho de viver na prática o bem comum só é possível com o empenho de todos os eleitores”, concluiu.
“Encantar a política”
Dom Giovani explicou sobre o Caderno “Encantar a política”. Ele foi feito em conjunto com os leigos e assumido pelo Conselho Nacional do Laicato no Brasil (CNLB) em parceria com outras entidades e organismos.
Os textos buscam ajudar na formação da consciência do eleitorado brasileiro. O bispo de Tocantinópolis contou que este caderno terá mais edições e não se limitará a ser produzido apenas em 2022. “O processo de formação política do povo brasileiro tem um caminho longo a ser percorrido”, disse.
Também o “Encantar a política” teve como inspiração algumas encíclicas do Papa Francisco. São elas: Evangelii Gaudium, Laudato Si’ e Fratelli Tutti. O caderno incentiva as dioceses, arquidioceses e movimentos da Igreja a também elaborarem suas próprias cartilhas, podendo se inspirar nos textos do “Encantar a política”.
Serão impressos 30 mil exemplares desse caderno que serão enviados para as dioceses de todos o Brasil, com foco nas localizadas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O conteúdo estará disponível no site que o CNLB está criando, ainda sem data certa para ser lançado.
“O fato de privilegiarmos os exemplares físicos deste caderno para algumas regiões se deve ao fato delas sofrem com maior falta de acesso à internet”, esclareceu.
Fontes: CNBB e Canção Nova Notícias