No cotidiano de nossas comunidades, os catequistas abraçam a necessidade, muitas vezes desafiadora, de acompanhar a caminhada de fé dos seus catequizandos. Bem sabemos que não se trata de uma tarefa fácil quando percebemos a sobrecarga que muitos de nós, catequistas, precisamos carregar. Mais delicado ainda é quando esse acompanhamento trata-se dos nossos catequizandos jovens.
Em março deste ano de 2019, o Papa Francisco assinou na Santa Casa de Loreto (Itália) a Exortação Apostólica Pós-sinodal Cristo Vive, uma carta do santo padre aos jovens e a todo o povo de Deus. O documento é um sinal da sensibilidade de Francisco às realidades juvenis no mundo e traz uma série de reflexões e indicações frutos do encontro do papa com bispos do mundo inteiro, em outubro do ano passado, com o tema “os jovens, a fé, e o discernimento vocacional” (1).
Entre as preocupações do bispo de Roma está o cuidado com a escuta e o acompanhamento dos jovens. Os catequistas, sobretudo aqueles que animam grupos de catequese crismal, período em que geralmente os catequizandos estão na faixa etária da juventude, tornam-se agentes fundamentais nesse caminhar com os jovens.
Mas, atenção! Nossa caminhada com eles não deve ser feita de toda forma ou cheia de discursos prontos. Para caminhar com os jovens, antes de falar, devemos escutar. “(…) Uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite ser questionada, perde a juventude e transforma-se num museu. Como poderá uma Igreja assim receber os sonhos dos jovens?” (FRANCISCO, 2019, n. 41).
Aqueles que se dispõem a caminhar com os jovens precisam, antes de tudo, escutar os jovens. Jesus Cristo, fonte de vida nova e eterna, ao se encontrar com a mulher samaritana no poço de Jacó, deixou de lado tudo o que a cultura segregadora dizia para se interessar pela realidade daquela mulher e escutar a sua história. Ou seja, para escutarmos os jovens, precisamos também nós cultivarmos o silêncio interior, que tem como ponto de partida a aceitação das pessoas como são e na situação em que se encontram.
Todos os anos, o Reitor-mor dos Salesianos de Dom Bosco publica uma carta a toda Família Salesiana convidando a todos para refletir sobre a temática anual escolhida para uma melhor evangelização com os jovens. Em 2018, sensibilizado pelo sínodo dos bispos que aconteceria naquele ano, o padre Ángel Fernández tratou em sua estreia sobre a arte de escutar e acompanhar os jovens (2).
Entre suas palavras, o religioso nos lembra que não é comum os jovens nos procurarem para pedir um acompanhamento espiritual, “mas, com frequência, são estimulados por necessidades, dúvidas, problemas, urgências, dificuldades, conflitos, tensões, decisões a tomar, situações problemáticas a enfrentar” (ARTIME, 2018, p. 15).
Não são raras as vezes em que a pessoa do catequista é o primeiro referencial do jovem na comunidade. E está justamente aí o tamanho imenso de nossa responsabilidade. Nós, catequistas, em determinados contextos, sobretudo aqueles de fragilidade familiar, podemos ser a única pessoa da nossa comunidade de fé em quem o nosso jovem confie. Por isso:
Assim como Jesus fez no encontro com as pessoas do seu tempo, é preciso ter em qualquer experiência de acompanhamento:
1- Um olhar amável, como o de Jesus no chamado vocacional dirigido aos doze (Jo 1, 35-51).
2- Uma palavra manifestada com autoridade, como pronunciada por Jesus na sinagoga de Cafarnaum (Lc 4, 32).
3- A capacidade de fazer-se próximo, como Jesus no encontro com a mulher Samaritana (Jo 4, 3-34, 39-42).
4- A opção de caminhar ao lado, fazer-se companheiro de caminho, como Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35).(Ibid., p. 34)
Será de grande valia se nós lermos, com a devida atenção, a exortação apostólica “Cristo Vive”. Com o zelo pastoral característico dele, o Papa Francisco insiste na escolha afetiva e efetiva da Igreja pelos jovens. No capítulo VII intitulado “A Pastoral dos Jovens”, entre os pontos 242 e 247, Francisco nos auxilia a continuar refletindo sobre o precioso papel dos adultos no acompanhamento dos jovens.
Assim como Jesus, São João Bosco, Madre Agathe Verhelle, o Papa Francisco e tantos outros e outras, é preciso que também nós, catequistas, acreditemos na juventude e dediquemos nosso precioso tempo a ela. “(…) Os nossos jovens têm sede de espiritualidade, sede de transcendência, sede de Deus, mesmo quando não sabem como exprimi-lo e como pedir-nos uma resposta” (Ibd., p. 48). Felizes seremos nós se nos permitirmos percorrer, com os jovens, a aventura do Espírito em nossas vidas.
(1) “Os jovens, a fé, e o discernimento vocacional” foi o tema da XV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada entre os dias 03 e 28 de outubro de 2018, na Cidade do Vaticano.
(2) A Estreia 2018 do reitor-mor do Salesianos de Dom Bosco pode ser acessada através do link: http://edbbrasil.org.br/gratuitos/estreia-2018.pdf.
Referências
ARTIME, Ángel Fernández. Estreia 2018. Brasília, DF: Editora EDEBÊ BRASIL, 2018.
FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica Pós-sinodal Christus Vivit. Santa Sé, 2019.
Sobre o autor
Hudson Ramos é mestre em Comunicação (PPGCOM – UFPE) e bacharel laureado em Rádio, TV e Internet pela mesma universidade. Católico de pé roxo, atua como catequista da Paróquia São José do Carpina (Diocese de Nazaré/PE – Nordeste II) desde 2004, desempenhando serviços como o de catequista formador, coordenador da Pastoral da Juventude (2011-2013) e coordenador da Pastoral da Catequese (2009-2010 e 2016- 2018).
Hudson Ramos Santos das Chagas
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