O tempo quaresmal, que hora estamos vivenciando, carrega, dentre tantos aspectos, a necessidade de voltarmo-nos para o Senhor, para que, iluminados e fortalecidos por sua graça misericordiosa, retornemos a Ele de corações verdadeiramente rasgados, como nos recorda o profeta Joel (cf. Jl 2,13). Entretanto, para que tal atitude seja executada com obsequiosa atenção, faz-se necessário seguir a risca o que o Senhor nos recordava no segundo Domingo da Quaresma, a saber: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9, 7b). E é justamente sobre este aspecto da ESCUTA que irei discorrer brevemente.
Ao lermos esse fragmento do Evangelho escrito por São Marcos, delineia-se claramente, para todos nós, qual é o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir: o da escuta atenta, obediente e oblativa, a exemplo do seu Filho amado, em quem o Pai pôs todo o seu bem-querer (cf. Mt 17, 5).
No tempo do distanciamento causado pelas “ilhas digitais”, que transpiram autossuficiência e narcisismo, na era onde os fones de ouvido nos permitem ouvir somente aquilo que nos apraz, Deus também se volta para nós e, diante das nossas tentações de “permanecermos aqui”, grita como um pai que vê seus filhos à beira de um precipício: ESCUTAI-ME!
Não é por acaso que o autor sagrado do Deuteronômio, ao fazer referência ao maior mandamento da lei do Senhor, começa logo dizendo: “Ouve, ó Israel […]” (cf. Dt 6, 4). De fato, como podem crer, se ainda não ouviram? Podemos afirmar, sem hesitação, que estamos diante de um dos maiores paradigmas dos nossos tempos: a necessidade salvífica da escuta, e obstinada aversão à mesma. Tal realidade é claramente percebida nos lares, relacionamentos, ambientes de trabalho, na sociedade como um todo.
Se nos debruçarmos sobre a história da salvação de forma panorâmica, perceberemos que todo chamado de Deus a alguém carece de um silêncio oblativo e pessoal. Foi assim com Abraão, com Isaac e com Jacó. Foi assim com Moisés, com Davi e Salomão. Foi assim com João Batista e seus pais, com Maria e com José. Foi assim com Jesus e continua sendo assim para conosco. Pois, como nos recordam São Leão Magno e o Apóstolo Paulo, a salvação nos vem pelo ouvido, através da escuta orante da palavra de Deus, que deve literalmente se encarnar em nossas vidas e, assim, redimi-la.
Por Padre Marcos Antonio de Arruda Moura